Quer
uma coisa mais agradável para qualquer governante do que distribuir cargos e
mais cargos entre seus aliados? No varejo em que se transformou a política
brasileira, qualquer mandatário que faça isso acumula sorrisos, tapinhas nas
costas e discursos inflamados de oradores animados. O problema ocorre
exatamente na situação inversa, quando não apenas o cobertor é pequeno para
cobrir dos pés à cabeça, mas também a cama parece faltar um pedaço. Aí, é crise
atrás de crise. Tímidas, é verdade, mas intensamente recheadas de chororô pelos
corredores palacianos. Mais ou menos como entende o velho ditado de que “a
dificuldade entra pela porta e o amor pula pela janela”.
É
mais ou menos o que se ouve no núcleo da base aliada estadual neste início de
mandato. Choros, reclamações e até algumas ameaças. Muita gente quer um naco de
governo que não existe. Deixou de existir por absoluta falta de condições de
ser mantido. Foi cortado. Então, o que restou precisa ser bem dividido entre
todos, com parcimônia.
O
governador Marconi Perillo sabe mais do que ninguém que não há como fazer as
coisas pelo jeito mais simples. Nos últimos tempos, Brasília não tem conseguido
gerar uma só notícia boa no que se refere ao setor econômico-financeiro. Ao
contrário, é notícia ruim seguida por outra péssima. Taxa de juros mais alta, inflação
escapando do patamar que já era teto, dólar cada vez mais caro, arrecadação em
queda por causa de uma recessão não apenas inegável como iminente. Diante
disso, ou o Estado de Goiás se adapta administrativamente à nova realidade de
vacas magras ou vai faltar até brejo para as vacas atolarem no futuro bem
próximo.
Olhando
por alto, e por esse prisma, a impressão que se tem é a de que o governador não
tem atendido aos seus aliados. É uma falsa impressão. Está atendendo, sim, na
exata medida em que consegue. Nesse aspecto, pelo menos, as reclamações e
ameaças veladas são injustas. Mas até onde isso vai?
Essa
é a grande dúvida. O PTB, presidido pelo deputado federal Jovair Arantes,
externamente parece ser o partido mais descontente. Não é. Pode ser o mais
estridente, mas está muito longe de não ter sido muito bem atendido. Não,
evidente, dentro de todas as suas expectativas. Mas foi atendido, sim. E não se
deve levar em conta apenas o momento de dificuldade atual, mas todo o conjunto
da obra. Indo ao aspecto mais elementar da conceituação política do governista
PTB: o partido afirma, com justiça, que cresceu nas últimas eleições.
Abso-lutamente verdadeira essa afirmativa. Mas a conta deve incluir também as
condições em que seus candidatos disputaram as eleições. Se estivessem no campo
oposto, na oposição, teriam crescido da mesma forma ou, ao contrário, teriam
caído como caíram os peemedebistas, que viram todas as suas bancadas minguarem?
Na política, não dá para fazer contas por um só viés.
Aqui
e ali se ouve que o PTB poderá selar aliança com partidos oposicionistas nas
eleições do ano que vem em Goiânia. E qual é a novidade nisso aí? Desde sempre
o partido se alinha com o Palácio das Esmeraldas nas eleições estaduais e
flerta como oposicionista na disputa pelo Palácio do Cerrado Venerando de
Freitas Borges. Lá atrás, em 2000, o PTB deu abrigo ao ex-petista Darci Accorsi
(falecido recentemente) contra a candidatura da senadora Lúcia Vânia. A exceção
foi 2012, quando o próprio Jovair se candidatou a prefeito com apoio do Palácio
das Esmeraldas.
No
geral, a crise na base aliada é o retrato falado do tamanho da reforma
administrativa. Nada além e nada aquém disso. De qualquer forma, se há alguém
com experiência suficiente para driblar situações como essa, esse alguém é
Marconi Perillo. Sua base aliada só fez crescer ao longo de todo este tempo. E
também só tem colhido vitórias nas urnas. Pode até acontecer de um ou outro, de
forma isolada, cair fora do grupo que vence eleições seguidamente. Mas, se for
olhar bem, do lado de fora está lotado de pretendentes que gostariam de entrar
no time. A crise de acomodação, portanto, deve ser passageira, e dificilmente
contaminará também o ambiente político.
(Afonso
Lopes)
Segunda-feira,
9 de março, 2015
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