Jornal Opção
Quem convive de perto com o governador Marconi Perillo (PSDB) sustenta que
ele alterna momentos de muito otimismo com a economia de Goiás — que cresce
mais do que a média nacional — e momentos de profunda irritação com alguns
secretários. O secretário da Infraestrutura, Wilder Pedro de Morais, só não foi
trocado porque o cargo é do DEM, que, por enquanto, prefere mantê-lo.
Segundo auxiliares de Marconi, Wilder estaria mais interessado em cuidar dos
negócios de sua empresa, a Orca, do que dos interesses do Estado. O secretário
da Indústria, Alexandre Baldy, começou bem, mas acomodou-se. Conta-se que está
mais preocupado com os negócios do sogro, Marcelo Limírio. “É possível que o
Elie Chediak, assessor para Assuntos Internacionais, seja mais útil para atrair
empresas do que Baldy”, diz um auxiliar de Marconi.
Nas conversas reservadas, Marconi tem dito que o governo deve ser mais ágil
para derrotar a burocracia. Ao mesmo tempo, constata que a burocracia só pode
ser enfrentada por secretários arrojados e que não se preocupam com
suscetibilidades. O governador tem dito que é preciso pôr o interesse público
acima de tudo. Alguns secretários devem ser trocados, ou, se não for possível,
serão pressionados para agir, para sair da toca.
Se há os que não trabalham, mas fingem até bem, há os que agem e, mesmo, os que
surpreendem. O secretário de Cidades, Igo Montenegro, assumiu como “azarão”,
mas tem sido apontado como um executivo atuante e produtivo. Jaime Rincon,
embora presidente da Agetop, funciona como um curinga do governo.
Giuseppe Vecci (Segplan), apesar do estilo intransigente, até arrogante,
agrada Marconi porque não tem receio de enfrentar a burocracia e os políticos
oportunistas. Simão Cirineu (Fazenda) tem o apoio do governador porque absorve
calado as críticas dos secretários e dos prefeitos e diz “não” com facilidade,
evitando o desgaste do governador. Está prestigiado.
O dirigente da cultura, Gilvane Felipe, tem o apreço pessoal de Marconi,
porque é determinado e, mesmo sem dinheiro, vem gerindo com relativa
desenvoltura uma área complicada. O governador quer apenas que seja mais
“agregador”. Quem não conhece as relações de Marconi com o secretário da
Educação, Thiago Peixoto, acredita que o tucano está insatisfeito com o
pessedista. Não está.
Pelo contrário, está satisfeito. Marconi tem dito a aliados que Thiago é
ousado, que tem espírito público e teve coragem de enfrentar o vespeiro da
educação, possivelmente o setor em que se fala mais em mudança com o objetivo
explícito de não mudar.
Marconi está negociando com os professores, mas em nenhum momento
desautorizou Thiago, um dos poucos auxiliares do primeiro escalão que tem
acesso direto ao governador — sem intermediários. Há, tudo indica, um projeto
político para Thiago. “O secretário provou que é capaz de enfrentar grandes
desafios”, frisa um auxiliar que trabalha quase ao lado do tucano-chefe.
Outro secretário que aos olhos do público parece desgastado é o de Segurança
Pública, João Furtado. Na prática, pelo menos na avaliação de Marconi, Furtado
está indo bem. Enfrentou a banda podre da polícia, que fez o impossível para
derrubá-lo, plantando notas em jornais e articulando rebeliões na Polícia Civil
e na Polícia Militar, e acabou dando a volta por cima.
Com a desmoralização recente de integrantes da cúpula da PC e da PM, Furtado
ficou ainda mais sólido, porque não está envolvido em nenhum escândalo e, pelo
contrário, está trabalhando para modernizar e moralizar as polícias. Outra
surpresa é o secretário da Agricultura, Antônio Flávio de Lima.
Tímido no início, apresentando-se mais como técnico, Antônio Flávio
deslanchou e tem o apoio do agronegócio e tem visão política do processo. É
ágil e não aprecia burocracia.
O presidente da Agecom, José Luiz Bittencourt, fez milagres num governo
praticamente sem dinheiro para investir em mídia. Aos poucos, e enfrentando a
burocracia com competência e determinação, está conseguindo dar unidade à
comunicação do governo. Há gerentes setoriais de comunicação que ainda não
perceberam que as secretarias específicas fazem parte de um governo e não devem
ser vistas isoladamente.
Reuniões por área — por exemplo, secretarias da Educação, da Cultura e
Ciência e Tecnologia poderiam ter pautas comuns — podem ser mais produtivas do
que reuniões coletivas. Zé Luiz está conseguindo que o governo fale uma única
língua, mas sem perder sua diversidade.
Vilmar Rocha é visto por Marconi como “hors-concours”, ou seja, como aquele
secretário que resolve problemas políticos e institucionais do governo. Na
crise do governo com o Poder Judiciário, a diplomacia do secretário-chefe da
Casa Civil, que conversava diretamente com alguns desembargadores, como Leobino
Valente, agora presidente do Tribunal de Justiça, foi decisiva para pôr as
coisas nos eixos e dirimir o contencioso.
Na articulação com prefeitos e, mesmo, nas conexões nacionais, sobretudo com
o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab — que ajudou na negociação da Celg —,
Vilmar tem funcionado muito bem. “O líder do PSD é o homem certo no lugar
certo”, afirma um auxiliar de Marconi.
O secretário de Relações Institucionais, Daniel Goulart, é um dos que mais
cumprem missões do governador. Marconi o aprecia porque não tem preguiça e
costuma ser o político das soluções e não cria problemas.
Resolvido o problema da Celg, o governo vai concentrar-se em resolver os
problemas da Saneago, órgão fundamental para que Marconi possa fazer um amplo
programa de saneamento básico em todo o Estado. Sob o comando do grupo político
do prefeito de Itumbiara, José Gomes da Rocha, a Saneago não vem funcionando
tecnicamente com desenvoltura. Teme-se, inclusive, que, se Gomes da Rocha
assumir o comando, a Saneago se transforme em “gueto” político.
O fato é que Marconi quer mais energia e ação do que discurso. A cultura do
gerúndio — a do “estou fazendo” — tende a ser abolida, pelo menos no primeiro
escalão.
Domingo.18/3/2012 ás 16:30h
Postado pelo Editor