Em quatro meses e uma Copa cheia de complicações
pela frente tudo pode acontecer. Ainda mais se levarmos em conta a velocidade e
o inusitado dos acontecimentos deste quentíssimo ano de 2014.
A última pesquisa do Ibope conta
novidades. Mudanças de cenário ocorridas em poucas semanas. Considerando o
histórico de desinteresse nesse período em eleições anteriores, a queda
acentuada no porcentual de pessoas indecisas, dispostas a anular o voto ou
simplesmente deixá-lo em branco, é a notícia mais auspiciosa.
Em abril último, esse grupo somava 37% dos pesquisados. Hoje são 24%. Os
especialistas no tema atribuem esse fato às propagandas partidárias na
televisão. Curtas, esporádicas e ainda em tom eleitoral quase subliminar devido
a restrições legais. Só em agosto os candidatos estarão liberados para pedir
votos de maneira explícita.
Por esse critério, da exposição, é de se supor que, ao contrário do esperado, o
índice de abstenção possa ser mais baixo do que indicaria o desapreço em
relação à política e seus personagens. Trata-se de uma impressão ainda a ser
conferida. Se confirmada, a explicação desse sinal de interesse pode estar no
despertar da consciência de que quanto menos importância o cidadão dá à
política melhor para aqueles que fazem dela uma atividade deletéria.
Outra razão talvez seja o clima de disputa que pouco a pouco vem se
estabelecendo e motivando as pessoas a participar. A antecipação da campanha tem
a ver com isso e o derretimento da situação de favoritismo inamovível da
presidente Dilma Rousseff também.
Ela continua na frente, com 40% das intenções. Mas aqueles eleitores que, na
feliz expressão do analista José Roberto de Toledo, "desceram do muro",
não subiram na caravana de Dilma. Os beneficiados foram seus principais
adversários, Aécio Neves e Eduardo Campos.
A presidente voltou ao patamar de março. Ganhou três pontos em relação aos 37%
registrados em abril. Isso representa um aumento de 8%. Aécio Neves tinha 14% e
foi para 20%; cresceu, portanto, 43%. Eduardo Campos de 6% foi para 11%; não
chegou a dobrar, mas aumentou seu capital em 83%.
Os números relativos à rejeição tampouco favorecem a presidente. Ficou
estacionada em 33%, mas os dos oponentes caíram. Eram 25% os que diziam não
votar em Aécio de jeito nenhum e agora somam 20%. Para Eduardo Campos, a queda
da rejeição foi mais expressiva: de 21% para 13%.
Ou seja, vai ter competição. Será uma eleição disputada, de resultado
imprevisível sem "cantatas" de vitória antes da hora, como aconteceu,
por exemplo, com o PSDB em 2010, quando José Serra reinou olímpico no patamar
acima de 40% por muitos meses enquanto Dilma lutava para alcançar os dois
dígitos. Até que deslanchou.
Para concluir, um dado inusitado da pesquisa: a presidente cresceu entre os
mais ricos e Aécio, entre os mais pobres. Uma inversão de preferências nos
públicos tradicionais de cada um, fenômeno que até agora não tem explicação
convincente e só reforça a impressão de que alguma coisa acontece nessa
peculiar eleição em que tudo pode acontecer.
Dora Kramer – O ESTADO DE SÃO PAULO.
Domingo, 25 de maio, 2014.