Sergio Moro-Podemos 19
As primeiras análises sobre a
presença do ex-juiz Sergio Moro entre os candidatos à Presidência da República
acentuam que ele arrebata mais eleitores propensos a votar em Bolsonaro do que
retira apoios a Lula. Reportagem de Thiago Resende, Folha de S. Paulo deste
sábado, focaliza o panorama, é verdade que com base mais ampla e avaliações
feitas por setores do PT. Os mesmos setores consideram também que Bolsonaro
deve manter uma posição entre 20% a 25% dos votos, percentual que o fará manter
à frente em relação ao ex-ministro da Justiça.
Mas, são apenas análises
básicas. O estudo do PT não foi o único a respeito da redistribuição de votos
com a entrada do ex-juiz. Na televisão, como acentuei outro dia, a jornalista
Eliane Cantanhêde, Globonews, revelou ter informação de que Moro havia ultrapassado
Ciro Gomes. Esta versão foi praticamente confirmada em matéria do jornal Valor,
edição de sexta-feira, que o colocava na terceira colocação.
São perspectivas básicas que
não podem incluir, como é natural, a movimentação inevitável das candidaturas.
Mas um fato provavelmente incomodou Jair Bolsonaro: a presença do general
Carlos Alberto dos Santos Cruz como vice na chapa de Moro em face do reflexo
político que poderá atingir a área militar do governo, já dividida com o afastamento
do general Hamilton Mourão, que não será o companheiro de chapa de Bolsonaro
nas urnas de 2022. A indisposição entre ambos ficou flagrante e se tornou
pública, demonstrando, na minha opinião, um corte na presença militar no
Palácio do Planalto.
Essa presença militar no
Planalto foi indiretamente criticada pelo general Santos Cruz numa entrevista à
Globonews quando disse que o militar nomeado para um cargo civil deve pedir
imediatamente a sua transferência para a reserva. Ele se referiu, é claro, à
posição do general Eduardo Pazuello que continua lotado no Palácio e na ativa
do Exército.
Thiago Resende lembra de outro
lado que a mais recente pesquisa do Datafolha sobre a sucessão presidencial
apontou Lula contido numa faixa de 42% a 44% das intenções de votos, contra uma
faixa de 25% a 26% de Bolsonaro. A pesquisa não incluiu, é claro, Sergio Moro,
colocando Ciro Gomes em terceiro numa sequência de 9% a 12%. João Doria e
Eduardo Leite apareceram com 4%. Mas o quadro mudou.
Temos que aguardar a próxima
pesquisa do Datafolha que talvez seja publicada ainda hoje ou então na próxima
semana. É importante verificar o verdadeiro peso de Sergio Moro num quadro
eleitoral. Pelo que os sintomas indicam será positiva. Ele deverá ultrapassar
Ciro Gomes e retirar votos que iriam para Bolsonaro contra Lula. Afinal de
contas foi ele que condenou o ex-presidente da República e o seu combate à
corrupção motivou setores de renda mais alta da sociedade brasileira, uma vez
que o problema da corrupção pesa menos para efeito de voto junto aos grupos
sociais de renda menor.
Tem que se esperar também o
desfecho das prévias do PSDB, sobretudo porque se o vencedor for João Doria
estará criado um problema na base paulista para Bolsonaro que pretende lançar o
ministro Tarcísio de Freitas para disputar o governo de São Paulo. Os fatos são
muito dinâmicos e entrelaçados uns aos outros. Qualquer movimento político gera
reflexos em qualquer sentido.
Reportagem da Folha de S.
aulo, edição de sábado, revela que a taxa de juros aos empréstimos bancários
pessoais elevou-se 2,2 pontos no final da semana, atingindo, no montante anual,
uma escala de 32%. A informação é do próprio Banco Central. Essa realidade
torna o crédito pessoal impossível, pois não tem cabimento alguém contrair um
crédito numa proporção destas, enquanto os seus salários permanecem na estaca
zero, perdendo para a inflação.
Os juros bancários são três
vezes maiores do que a inflação, portanto, o rendimento das operações para os
bancos é bastante real. O mesmo não acontece com os funcionários públicos e
empregados regidos pela CLT, incluindo os das empresas estatais. Não há
qualquer possibilidade de quem obteve o crédito possa pagá-lo na prática. Terá
que recorrer a sucessivos empréstimos. Os números sustentam essa realidade. Mas
há uma parte quase inacreditável dos juros cobrados no mercado. A Folha de S.
Paulo publica: 313% sobre o crédito rotativo dos cartões de crédito, 172% ao
ano são os juros dos parcelamentos através dos cartões de crédito.
Quanto a esse aspecto vale uma
colocação; quando bancos fazem peças publicitárias falando sobre financiamento
através de cartões, não se referem, em muitos casos, a essa taxa de 172 %. A
respeito dos juros cobrados sobre os saques nos cheques especiais, eles atingem
128% ao ano. Enquanto isso, a taxa Selic que rege a correção da dívida interna
do Brasil encontra-se fixada em 7,75% ao ano, mas deve subir 1,5% na reunião do
COPOM no final deste mês. Como a dívida interna bruta brasileira é de R$ 6 trilhões,
1,5% representa um acréscimo de despesa da ordem de R$ 90 bilhões por ano. Por
isso é fundamental, como dizia sempre o ministro Roberto Campos, avô do atual
presidente do Banco Central, que os cálculos percentuais devem sempre incluir
sobre quais números absolutos incidem.
O Globo e a Folha de S. Paulo
publicaram ontem várias páginas com base em estudos da Organização Mundial de
Saúde sobre a gravidade do Ômicron, variante sul-africana do coronavírus, como
um fator de preocupação mundial. O presidente Jair Bolsonaro no primeiro
momento não levou a sério essa ameaça e se negou a suspender a entrada no país
de viajantes procedentes da África do Sul e de mais seis nações africanas.
Depois recuou e o ministro
Ciro Nogueira publicou nas redes sociais a decisão bloqueando e exigindo
quarentena dos passageiros dos países da África. Há, portanto, um sinal de
alarme no mundo, desaconselhando a flexibilização de medidas restritivas. O novo surto detectado pela OMS deve colocar
em dúvida a realização do Carnaval de 2022 que pode agravar um processo que
ameaça a vida humana e que deve ser bloqueado por todos os meios possíveis.
O Brasil já perdeu mais de 610
mil vidas humanas e no país já foram realizadas milhões de hospitalizações.
Agravando ainda mais as pré-condições, o próprio IBGE divulgou na noite de
sexta-feira (RJ2 da TV Globo) a queda da qualidade de vida no país e
principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
* Pedro do Coutto
Domingo, 28 de novembro 2021 às
12:34