Marcelo
Odebrecht, o maior empreiteiro do país, foi preso no dia 19 de junho na mais
importante fase da Operação Lava Jato. O executivo se considerava intocável e
tinha a certeza de que seu amplo leque de contatos políticos o livraria dos
temidos mandados de prisão assinados pelo juiz Sergio Moro. Enquanto via
empresários concorrentes encrencados desde novembro, quando a Polícia Federal
deflagrou a 7ª fase das investigações e levou presos empreiteiros do Clube do
Bilhão, Odebrecht tinha uma meta: aproximar-se do atual presidente do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), ministro Francisco Falcão.
Mensagens
cifradas apreendidas no telefone celular do empreiteiro indicam que o executivo
listava Falcão como uma das autoridades que, no limite, podiam atuar em seu benefício
em caso de problemas judiciais. No momento em que o empresário tenta conseguir
um habeas corpus para ser liberado, está nas mãos do próprio ministro Francisco
Falcão o recurso que tenta interromper seus mais de 35 dias de cadeia. Embora
esteja preso desde junho, o habeas corpus no STJ foi pensado para ser
apresentado apenas nos últimos dias. É que assim o recurso seria
estrategicamente distribuído ao ministro, responsável pela segunda metade do
plantão do tribunal no recesso do Judiciário.
Em
Brasília, Francisco Falcão tem como um dos principais interesses conseguir
emplacar o desembargador Marcelo Navarro Dantas para a vaga aberta no STJ com a
aposentadoria de Ari Pargendler. Nos bastidores, tem feito investidas no
Palácio do Planalto e no Congresso para conseguir que o apadrinhado se torne
ministro. Dantas recebeu 20 votos e foi o segundo colocado na lista de
candidatos a ser encaminhada à presidente Dilma Rousseff, a quem cabe, ao
final, escolher o novo ministro do STJ. Joel Paciornik, com 21 votos, e
Fernando Quadros, com 18, completam a relação de indicados à vaga.
Interlocutores dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Aloizio
Mercadante (Casa Civil) não têm dúvida: um despacho de Falcão favorável à
liberdade de Marcelo Odebrecht seria devidamente recompensado com a indicação
de Navarro Dantas para o STJ.
Nas
mensagens cifradas no celular de Marcelo Odebrecht aparecem referências a
"Falcão" e a "Aprox STJ". O contexto da conversa não foi
decodificado pela Polícia Federal. A defesa do empreiteiro tem até a meia noite
de hoje para explicar item por item as menções feitas pelo executivo aos mais
diversos políticos. Estão listados nas mensagens do empreiteiro, entre outros,
o ex-presidente Lula, o atual vice-presidente Michel Temer, o senador José
Serra (PSDB) e o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). Do STJ
também há referências aos ministros Raul Araújo, João Otávio de Noronha e Nancy
Andrighi.
(Vagner
Rosário/VEJA)
Segunda-feira,
27 de julho, 2015
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