Mais uma baixa. O governo acaba
de suspender o programa Minha Casa, Minha Vida para a população mais pobre com
renda familiar de até R$ 1.600. Justificativa arranjada: até zerar os
pagamentos atrasados às construtoras das moradias. Quando vai acontecer,
ninguém sabe. Na crise em que o governo do PT mergulhou o País, a tendência
está mais para cancelar o programa do que para recuperar o que foi perdido.
Justificativa real: os mais pobres são a faixa de renda onde o governo mais
gasta, pois o subsídio é elevado, e é também onde o desemprego chega mais forte
e a inadimplência passa a ser inevitável.
É sempre assim: por ser a parcela
mais vulnerável da população, os pobres são os primeiros a ser punidos, quando
fracassam ações de governos irresponsáveis, que saem por aí distribuindo
ilusões, sonhos para alguns, que logo se transformam em pesadelos para todos.
Foi assim também com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Ciência Sem
Fronteiras. E os brasileiros andam perguntando qual será o próximo. O Mais
Médicos? O Bolsa Família?
Investir dinheiro público para
melhorar a vida da população pobre é obrigação de todo governo. É uma forma de
devolver à sociedade e aos que mais precisam o que recebem em arrecadação de
impostos. E no Brasil a carga tributária é das mais elevadas do mundo: 36% de
toda a renda gerada pelo País vai para os cofres do governo. Só que, para o
programa social ganhar eficácia, bons resultados - e, mais importante, ter
continuidade -, é preciso planejar, avaliar sua evolução, estruturá-lo dentro
de uma realidade orçamentária que lhe dê longa vida, para que a população sinta
segurança de que o terá hoje e no futuro e não seja sobressaltada pelo fantasma
de sua extinção.
Foi assim que desapareceu (tão
rápido quanto nasceu) o Minha Casa, Melhor, em que o usuário do Minha Casa
Minha Vida podia comprar móveis e eletrodomésticos com crédito subsidiado. Por
sair por aí esbanjando dinheiro público, inclusive para empresas amigas (com
desonerações tributárias ou créditos bilionários do BNDES), o governo Dilma
levou o País a mergulhar na pior crise fiscal do período pós-ditadura, com
efeitos desumanos sobre o desemprego, no empobrecimento da população, na
inflação, na retração econômica, etc. O retrocesso econômico, a crise política,
o crescente descrédito da presidente ameaçam até os ganhos conquistados e que
pareciam estruturais, mas eram frágeis e agora andam para trás, entre eles a
ascensão de milhões de brasileiros para a nova classe média, muitos já de volta
à pobreza.
E é neste quadro adverso de crise
política e econômica que o ex-presidente Lula propõe a sua sucessora a solução
que ele acredita infalível: Dilma deve parar de falar em ajuste fiscal e
petrolão, abandonar temas negativos e viajar pelo Brasil afora prometendo um
futuro promissor e brilhante para o País e para os brasileiros. Com uma varinha
de condão, Lula quer fazer desaparecer a realidade e falar de um mundo encantado
de conto de fadas. Só falta combinar com as famílias de brasileiros que perdem
o emprego, com os estudantes sem aula e escolas em greve, com idosos que vêm de
longe e encontram agências do INSS fechadas em greve, com doentes que enfrentam
filas em hospitais em busca de cura e não são atendidos.
A cada mês os indicadores
econômicos e sociais pioram e não param de mostrar que a realidade é mais
sofrida do que imagina Lula com seu deslumbramento. E até agora não há o menor
sinal de melhora. A confiança no governo não foi recuperada, a indústria
definha, as previsões para o Produto Interno Bruto deste e do próximo ano só
pioram, a inflação não cede, os investimentos não chegam, os casos de corrupção
envolvem lideranças políticas do governo e escancaram roubalheira e desperdício
de dinheiro público. Tal cenário de degradação política e econômica conspira
contra a volta do ansiado crescimento econômico e da geração de novos empregos.
Mas para Lula a solução está em
tentar enganar (difícil conseguir, hem?), seguir driblando a realidade, levar
sonhos e ilusões.
(Suely Caldas)
Domingo, 19 de julho, 2015
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