A
Controladoria Geral da União (CGU), principal órgão de controle interno do
governo federal, e que sempre esteve a reboque das mais graves denúncias de
corrupção no governo, recebeu durante a campanha eleitoral do ano passado
provas de que a empresa holandesa SBM Offshore pagou propina para fazer
negócios com a Petrobras, mas só abriu processo contra a empresa em novembro,
após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. O ministro-chefe da CGU, na
ocasião, era Jorge Hage, conhecido por sua militância petista. Ele só deixaria
o cargo em 8 de dezembro.
O
ex-diretor da SBM Jonathan David Taylor contou ao jornal Folha de S. Paulo que
prestou depoimento e entregou mil páginas de documentos internos da empresa à
CGU entre agosto e outubro de 2014. Os documentos indicam que a empresa pagou
US$ 139 milhões ao lobista brasileiro Julio Faerman para obter contratos na
Petrobras.
Apesar
de já dispor do depoimento e da documentação, a CGU não apenas deixou de enviar
a documentação imediatamente à força-tarefa da Operação Lava Jato como só
anunciou a abertura de processo contra a SBM em 12 de novembro, 17 dias após o
segundo turno da eleição presidencial. Taylor trabalhou durante oito anos e
meio para a SBM na Europa e é apontado pela empresa como responsável pelo
vazamento de documentos e informações sobre o caso publicadas na Wikipedia em
outubro de 2013.
Entre
abril e junho do ano passado, Taylor depôs e entregou documentos ao Ministério
Público da Holanda. Segundo a própria SBM, ele participara de um grupo que
conduzira uma investigação interna sobre o caso em 2012.
O
delator disse ao jornal, segundo reportagem de Leandro Colon, que foi sua a
iniciativa de procurar a CGU, que abrira uma sindicância para apurar o caso no
Brasil. Em 27 de agosto, ele repassou ao órgão o relatório de uma auditoria
interna da SBM, mensagens eletrônicas, contratos com o lobista, extratos de
depósitos em paraísos fiscais, a gravação de uma reunião da empresa e uma lista
com nomes da Petrobras.
O
material foi enviado por email ao diretor de Acordos e Cooperação Internacional
da CGU, Hamilton Cruz, que no dia seguinte atestou o recebimento e informou que
passaria as informações para o chefe da investigação.
No
dia 3 de outubro, dois dias antes do primeiro turno, Taylor recebeu no Reino
Unido a visita de três funcionários da controladoria, entre eles Hamilton Cruz.
"Contei tudo o que sabia", afirma o delator.
A
CGU nunca divulgou dados sobre a viagem e o depoimento. Para Taylor, a demora
do órgão em anunciar o processo contra a empresa holandesa teve motivação
política.
"A
única conclusão que posso tirar é que queriam proteger o Partido dos
Trabalhadores e a presidente Dilma ao atrasar o anúncio dessas investigações
para evitar impacto negativo nas eleições", diz.
Em
entrevista à Folha, o chefe jurídico da SBM, Alessandro Rigutto, reafirmou a
acusação da empresa de que Taylor tentou chantageá-la. "Ele pediu algo em
torno de 3,5 milhões de euros pelo silêncio", afirmou.
(Jornal Folha de S. Paulo)
Terça-feira,
14 de abril, 2015
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