Após
quase 15 meses como ministro da Justiça, Sérgio Moro deixou o governo de forma
inteiramente compreensível se considerarmos que ele não teve a autonomia e
muito menos condições de cumprir o papel que lhe foi prometido quando aceitou o
cargo ainda em novembro de 2018.
Convém
lembrar que Sérgio Moro, antes de virar ministro, vinha de uma carreira na
magistratura que ganhou súbita fama pelo seu trabalho na operação Lava Jato.
Sua vinda para o governo foi uma jogada de risco para ele próprio não apenas
por abrir mão da sua condição de Juiz para a condição de “político” pela
natureza do novo cargo, mas sobretudo por emprestar ao governo de Jair
Bolsonaro um prestígio pessoal que naquele momento lhe dava a condição de um
dos homens públicos mais populares do País.
No
cargo de ministro, Sérgio Moro acumulou conflitos públicos com o presidente da
República que tiveram pelo menos duas consequências: 1) a perda de status como
homem forte do governo que seria decorrência natural do seu prestígio público e
2) o início de um processo de erosão do seu capital político-eleitoral,
conquistado pela sua atuação, muitas vezes contestada no âmbito da legalidade
de algumas decisões, durante a operação Lava Jato, e crucial para a manutenção
de projetos políticos pessoais uma vez que não poderia mais voltar à
magistratura.
Qual
será o futuro de Sergio Moro? Considerando o capital eleitoral que ainda detém,
a busca por uma candidatura à Presidência da República – o mais provável – ou
ao governo do Paraná, onde tem domicílio eleitoral, são os destinos mais
prováveis. Ao sair do governo Bolsonaro nesse momento, e não se vincular à
postura do presidente em relação à covid-19 e ainda fixar posição pela
autonomia da Polícia Federal no contexto de investigação das fake news, que
alcançam os filhos do presidente, permite a Moro manter prestígio social e
pleitear voos eleitorais mais ambiciosos. Se demorasse um pouco mais no governo
certamente ampliaria seu desgaste e, com isso, suas ambições desceriam aos
cargos de senador ou deputado.
Qual
o futuro do governo Bolsonaro? Esse é ainda mais incerto. Não é racional em
termos de busca de governabilidade a postura de Bolsonaro em demitir o seu
ministro mais popular no momento e aquele que empresta ao governo um prestígio
moral no combate à corrupção. Fica ainda mais difícil compreender a atitude de
Bolsonaro por isso ocorrer no mesmo instante em que ele busca costurar a
formação de uma base política, inclusive com o Podemos, partido mais alinhado
com Moro, para tentar reverter as continuas derrotas do governo no Congresso.
Bom
lembrar que partidos políticos, apesar de negociarem cargos no governo em troca
de apoio político, também fazem cálculo eleitoral. O impeachment de Dilma
Rousseff mostrou isso claramente. E nesse momento, para muitos partidos, ficar
ao lado de Moro pode fazer mais sentido para suas sobrevivências eleitorais do
que assumir a condição de partidos “do” ou “no” governo.
Ao
fritar Sérgio Moro, Jair Bolsonaro não apenas aumentou perigosamente o seu
isolamento, como também construiu seu maior adversário político para 2022, caso
seja candidato a reeleição ou termine o mandato. Moro poderá, inclusive,
mostrar sua força política com a possibilidade de interferir já nessas eleições
de 2020.
*
Marco Antonio Teixeira é cientista político e professor da FGV-SP
Sexta-feira,
24 de Abril, 2020 ás 12:00
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