Tenho
me perguntado uma coisa há algum tempo, e o leitor que me acompanha sabe disso.
A pergunta que me atormenta é: por que nós intelectuais achamos que somos do
bem?
Explico
meu estranhamento. Intelectuais são pessoas normais e, portanto, movem-se por interesses
que nem sempre podem ser confessados em voz alta. Por exemplo: vaidade,
ambição, paixões, racionalizações pragmáticas, inveja, ódio, amor, instintos
competitivos; enfim, nada de novo no front. E dinheiro? Claro que sim, mas, em
nossa vida de profissionais do saber, normalmente, isso se traduz em
"verbas de pesquisa", "horas-aula", "palestras",
"concursos".
No
fim das contas, é grana. E prestígio, moeda de alto valor em nosso mundo.
Principalmente
porque esse nosso mundo é pobrinho de grana. Logo, vaidades tomam o lugar da
pouca quantidade de grana. Mas mente-se com frequência em relação aos
interesses financeiros nesse mundo (principalmente no Brasil, que patina numa
mentalidade neolítica contra a sociedade de mercado), normalmente por mera pose.
E fatos como esses (refiro-me a esta pose) é que me levam de novo à pergunta
inicial: por que nós intelectuais assumimos que somos do bem?
Penso
que uma primeira resposta está em nossa vaidade: resta-nos a pose de ser do
bem, já que não temos muito dinheiro e, fora do nosso mundo, não temos muito
prestígio. Ser do bem é uma vaidade que data, no mínimo, do clero católico
medieval. Nós intelectuais somos o novo clero do mundo: posamos de
representantes do sumo bem, mas agimos como todo humano miserável, movido pelas
mesma paixões dos "ignorantes".
Mas
tem mais coisa nesse angu. Qualquer um pode ver esta percepção de que somos do
bem no modo arrogante como assumimos que as pessoas comuns são meio idiotas
(ainda que não digamos isso claramente). Por exemplo, essa gente iletrada a
favor da maioridade penal, contra o aborto, que come carne aos montes, que
"acredita na família" (só gente inculta comete esse erro), que pensa
que com armas nas mãos pode se defender de bandidos, que acha que o mundo está
dividido em "gente de bem" e "bandidos", ou seja, essa
gente comum é de uma estupidez que choca nosso intelecto muito mais "bem
informado".
É
verdade que quando você estuda mais, você fica com um olhar mais
"sofisticado" para o mundo. Mas essa "sofisticação" implica
que o saber comum, impregnado no cotidiano de milhares de pessoas, seja menor
do que o de uma só pessoa que lê muitos livros? Ou que essa
"sofisticação" torna você uma pessoa moralmente melhor? Não creio.
Intelectuais aderem a toda forma de humilhação cotidiana de outras pessoas,
assim como aderiram a toda forma de violência política no século 20. Mas, ainda
assim, minha tribo está segura de que representa o néctar moral do mundo.
Basta
ver a história recente do PT (grêmio que reuniu a esmagadora maioria dos
intelectuais brasileiros nos últimos tempos) para ver o ridículo dessa gente. E
o pior é a pergunta que decorre diretamente da derrocada moral do PT: como
esses intelectuais "brilhantes" não foram capazes de enxergar que o
glorioso partido era na realidade uma assembleia de gente no mínimo
"duvidosa" moralmente? Todos esses anos de estudos para apostar numa
entidade corrupta como esta?
Intelectuais
não são reserva de moral nenhuma. Não somos os guardiões do bem. E é desse
"não" lugar que devemos falar.
Por:
Luiz Felipe Pondé
Segunda-feira,
16 de novembro, 2015
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