É
estranhável a insistência do ex-presidente Lula em substituir Joaquim Levy no
Ministério da Fazenda por Henrique Meirelles, quando parece claro a todos que
seria como trocar seis por meia dúzia. Nada do que Levy defende Meirelles
recusa, e tudo o que a ala erroneamente identificada como desenvolvimentista
pretende, como expansão do crédito e juros baixos no peito, Meirelles não
atenderá se chegar lá.
Simplesmente
porque não há condições objetivas para retomar a tal "nova matriz
econômica" inventada por Mantega sob a coordenação da presidente Dilma,
que nos levou à crise em que nos debatemos. Nesse particular, os papéis
inverteram-se.
No
início do segundo mandato, Dilma não parecia disposta a admitir que errara
convidando para a Fazenda um antípoda de Mantega, e foi Lula quem a convenceu a
convidar Trabuco, o presidente do Bradesco, para o cargo. Levy foi uma
consequência dessa iniciativa, e sua escolha pressupunha que o governo, e
também o PT, estava convencido de que a receita desandara e o melhor era recuar
para evitar a catástrofe que se desenha no horizonte.
Só
que o remédio duro receitado pelo especialista em cortar custos acabou sendo
rejeitado tanto por Lula quanto pelo PT, como se existisse alternativa viável.
Se a luta política petista, sob a orientação de Lula, fosse para colocar no
lugar um Luiz Gonzaga Belluzzo, ou um Mareio Pochmann, haveria pelo menos
coerência nessa demanda, mas no momento a mais coerente parece mesmo ser a
presidente Dilma, que teima em permanecer com sua escolha inicial como se já
tivesse entendido que não deu certo a experiência do primeiro mandato.
A
insistência de Lula em tirar Levy pela alternativa defendida mais parece mesmo
uma vingança contra quem considera ser o responsável pela ação republicana da
Receita Federal e do Coaf, que investigam indícios de enriquecimento ilícito de
Lula e parentes, conforme revelou Jorge Bastos Moreno na sua coluna de sábado.
Ao
mesmo tempo, insistir nessa campanha contra Levy e o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, parece indicar que Lula está querendo é desestabilizar o
governo de Dilma, deixando de lado pruridos éticos, que nunca foram seu forte,
para praticar uma política realista que o levaria a desejar a saída da
presidente para ele e o PT ficarem livres desse fardo e poderem, já na
oposição, acusar o governo substituto de todos os males que terão que fazer se
continuarem governando.
A
essa altura dos acontecimentos, já existem indícios suficientemente fortes para
que o ex-presidente tema ser denunciado como o verdadeiro mentor do esquema de
corrupção implantado no país. A ação política incessante de Lula tem esse
objetivo, o de mantê-lo visível para torná-lo inatingível.
(Merval
Pereira)
Terça-feira,
17 de novembro,2015
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