Foi
ótima a ideia de usar o modo digital para fornecer a Carteira Estudantil, não é
mesmo? Estimou o governo que isso proporcionaria uma redução de custos da ordem
de R$ 1 bilhão por ano e representaria para a UNE uma perda de receita em igual
montante. A carteira fornecida pela entidade aos estudantes custa R$ 35 mais
frete. Se digital, o fornecimento seria gratuito. Arrepiaram-se alguns cabelos
quando a respectiva Medida Provisória (MP) dispondo sobre o assunto, com amplo
apoio entre os cidadãos interessados em questões nacionais, deu entrada no
Congresso.
Lá
ganhou número (MPV Nº 895), aclamação das redes sociais e inimigos poderosos. O
presidente Rodrigo Maia e o deputado Orlando Silva, do PCdoB, se entendem muito
bem. A UNE já era comandada por partidos ou organizações comunistas quando eu,
no início dos anos 60, participava da política secundarista. Coerente com sua
história, escolheu Fidel Castro para patrono em 1999!
Seria
necessário um milagre – tipo o Sol se pôr a Leste – conseguir que em apenas
três dias se constituísse a Comissão Especial e fosse a MP levada ao Plenário
até 14 de fevereiro (esta sexta-feira), último dia para ser votada antes de
perder a validade. Temos sido agraciados com incontáveis exemplos de que essas
coisas só andam assim, em “ritmo alucinante”, quando favorecem os maus
parlamentares.
Em
longa entrevista ao UOL, publicada na quinta-feira passada (06/02), o líder do
Centrão, deputado Arthur Lira, foi perguntado sobre as possibilidades de algum
projeto ser aprovado sem apoio do Centrão. Resposta do parlamentar:
“É
difícil. Você tem alguns partidos que compõe a esquerda, PT, PSB, PDT, PC do B,
PV, Psol, Rede. Tem uma parte do PSL votando com o governo e tem os partidos de
centro, 280, 300 deputados dependendo da votação. E esses partidos, há de ser
reconhecido, deram muita estabilidade para o presidente da Casa. ”
E
seguiu o entrevistado confirmando algo que tantas vezes denunciei ao longo do
ano de 2019 sobre o papel que o bloco desempenha na política brasileira desde a
Constituinte:
“O
Centrão teve um papel de muita importância. Quando há um projeto que não tem
apoio do centro ele sequer é pautado. ”
Nada
mais precisa ser dito. Está contada a história da Medida Provisória Nº 895.
Arthur Lira e Rodrigo Maia se entendem em nome de interesses superiores…
Fica
bem exposto diante de nossos óculos, limpos e atualizados, o nó da correia das
instituições nacionais: a menos que haja maioria comprada e bem paga nos
cambalachos do “é dando que se recebe”, o Parlamento faz o jogo dos
parlamentares.
E
nossa grande imprensa, que antes denunciava tais operações como o que de fato
eram – aplicações cínicas da linda oração atribuída a São Francisco – fechou o
livro de preces e cerrou os olhos. Talvez durma.
Imagine,
leitor, uma situação inversa. Suponha que a UNE fosse historicamente dominada
por um partido político formado por conservadores, ou por liberais. Qual seria
a atitude de um governo de esquerda? Preservaria sua descomunal fonte de
financiamento?
Infelizmente,
há no próprio corpo social brasileiro quem entre em fila para fazer papel de
bobo.
(Percival
Puggina)
Quinta-feira,
13 de fevereiro, 2020 ás 11:00
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