Fica,
pois, assentado que campanha é assim mesmo, um vale-tudo emocional, sem relação
com os fatos e com a lógica
Dá
para compreender: eleição tem muito de emoção, de modo que as campanhas,
dominantemente de rádio e TV, precisam apelar para o sentimento dos eleitores.
Mas vale enganar, especialmente, as pessoas mais desinformadas?
Pessoal
que trabalha com Dilma tem dito que muitas afirmações feitas pela presidente,
como a que os banqueiros querem dominar o Banco Central para tirar a comida do
povo, são “coisa de campanha”. Reparem: o pessoal faz essa ressalva para os
eleitores mais informados, líderes de setores, formadores de opinião ou, para
usar a linguagem de Lula, a elite rica.
Supondo
que vale a ressalva, fica assim, portanto: a campanha tem umas mentirinhas para
pegar o voto daquela turma que, vocês sabem, não é muito esperta; mas no
governo será diferente, mais razoável e menos emocional.
Se
for isso, a conclusão é inevitável: campanha é uma licença para mentir; e não
se trata “apenas de propaganda”, mas de propaganda enganosa.
Muita
gente diz que nos Estados Unidos é pior. Não é. Sobram lá os ataques pessoais,
assim entendidos como a crítica feita diretamente à pessoa do candidato, não
tanto a suas posições. Por exemplo: dizer que o adversário é incompetente,
falso e sem moral.
Acontece.
Cada campanha assume os riscos desses ataques. Sim, riscos, porque muitas vezes
produzem efeito contrário. De todo modo, os candidatos não têm como escapar de posições
definidas sobre os grandes temas nacionais e internacionais. Trata-se de uma
cobrança do ambiente político.
Considerem
os debates pela televisão, aliás, uma invenção da democracia americana. As
regras são mínimas, em geral, selecionando apenas o assunto central, por
exemplo, diplomacia ou economia. Os mediadores, jornalistas, têm ampla
liberdade para perguntar e reperguntar, para gastar tanto tempo quando
considerem necessário para esclarecer uma posição.
Aqui,
por exigência dos candidatos, nisto apoiados pela legislação eleitoral, não por
acaso feita pelos próprios políticos, as regras são colocadas de modo a criar
menos riscos para os participantes. Falando francamente: são regras para
permitir que os candidatos se escondam nas generalidades e não sejam cobrados
por isso.
Carlos
Alberto Sardenberg
Quinta-feira,
2 de outubro, 2014.
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