Pela
crendice popular, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Não é verdade.
Agora, seria bom constatar, senão o fim do mundo, ao menos a iminência do fim
do governo, quando quatro raios caíram no palácio do Planalto, todos pela
chaminé. Foi o que aconteceu quarta-feira. Há quem diga que, de acordo com as
leis da Física, os raios não vem do céu para a terra, mas, pelo contrário, são
elaborados de baixo para cima, antes de despencarem das nuvens.
De
repente, Aloísio Mercadante, chefe da Casa Civil, Michel Temer, vice-presidente
da República, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, e Renan Calheiros, presidente
do Senado, falaram a mesma linguagem, anunciando a tempestade. O primeiro, numa
entrevista improvisada nos corredores do Congresso, anunciou a iminência do
caos, reconhecendo os múltiplos erros do governo e apelando para um acordo
suprapartidário. O outro, reunindo os líderes dos partidos, falou da gravidade
da situação e sugeriu que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos antes
de uma grave crise. O comandante da política econômica prenunciou “uma situação
desagradável” por conta da alta dos juros e da cotação do dólar, apelando outra
vez para a votação do ajuste fiscal. E o senador admitiu o impeachment de
Dilma, que ele poderia dar andamento caso viesse da Câmara a abertura do
respectivo processo. Foi a quarta-feira sangrenta.
Alguma
coisa de muito grave aconteceu para tanta movimentação, cujo epicentro está na
presidente da República. Chegou-se até à suposição de que Madame decidira
entregar os pontos, ou seja, renunciar ao mandato. A possibilidade de não poder
mais governar, a desagregação e a rebelião dos partidos da base, as sucessivas denúncias
e condenações promovidas pela Operação Lava Jato, a exigência de ampla reforma
do ministério e a proximidade de monumental manifestação da sociedade, armada
de panelas, no próximo dia 16, teriam levado a presidente à ameaça de saltar de
banda. Claro que diante da sombra de ações cirúrgicas do Tribunal de Contas da
União e do Tribunal Superior Eleitoral, ambas capazes de mobilizar o Congresso
para dar início à degola, com a óbvia participação do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, transformado em inimigo número um do governo.
Daí
terem os quatro cavaleiros do Apocalipse vindo a público na tentativa de
evitar, mas, ao mesmo tempo, de prever a catástrofe. Só a hipótese da renúncia
de Dilma poderia mobilizar tamanho potencial de crise. Teria ela dado algum
sinal? A hipótese fica em aberto, por mais que se conheça sua personalidade
arrogante e inflexível. Algo de explosivo ronda os gabinetes do palácio do
Planalto.
Atente-se
para a mensagem de Michel Temer, que nas entrelinhas e nas linhas coloca-se
como alternativa para o pior. Vem coisa por aí.
Por:
Carlos Chagas
Sábado,
08 de agosto, 2015
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