Um
dia depois da publicação do decreto do presidente da República Michel Temer que
deixou mais brandas as regras para o perdão da pena de condenados por crimes
cometidos sem violência ou ameaça, como corrupção e lavagem de dinheiro, o
ministro da Justiça, Torquato Jardim, disse que a decisão de Temer é impessoal
e não prejudica a Lava Jato.
Ao
reconhecer que se trata de uma medida difícil de ser entendida pela sociedade
brasileira, Torquato Jardim disse que o presidente da República, que é
professor de direito constitucional e foi duas vezes secretário de Segurança do
estado de São Paulo, entendeu que esse era o momento político adequado para se
ter uma "visão mais liberal" da questão do indulto no direito penal.
De
acordo com o ministro a medida levou em conta a superpopulação carcerária.
"As cadeias estão superlotadas. Essa é uma realidade que não podemos
ignorar. Os que vão deixar as cadeias são pessoas que não cometeram crime
hediondo e não se valeram de grave ameaça," afirmou.
Ainda
em defesa do decreto ele disse que as regras não alcançam apenas crimes contra
a administração pública, já que também incluem condenados por tráfico de
pessoas, drogas, armas e crimes cibernéticos que, segundo ele, passaram a ser
tratados neste ano com “abstração, impessoalidade e universalidade”, que são
critérios da norma jurídica.
Críticas
Em
resposta às críticas do coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que afirmou
que a medida "é um feirão de Natal para corruptos”, Torquato Jardim
garantiu que o indulto não traz nenhum prejuízo à operação. “É sempre uma
escolha filosófica e humanitária do presidente da República”, explicou.
Sobre
o fato de não terem sido acolhidas as recomendações do Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária e do Ministério Público, para que os crimes
contra a admistração público ficassem fora da norma, Torquato Jardim lembrou
que o conselho é um órgão de aconselhamento e que a decisão do presidente da
República não é um ato judicial, nem do Ministério Público.
Em
nota publicada ontem, a Transparência Internacional diz que recebeu com
"profunda preocupação" o decreto. "A frustração do efetivo
cumprimento das penas impostas pela Justiça sinaliza à população que, com
frequência, os corruptos e poderosos podem encontrar formas de escapar da
Justiça, a despeito da gravidade de seus crimes", diz o documento.
Estudos
da Transparência Internacional sobre a utilização de instrumentos de perdão no
mundo apontam que seu uso inadequado pode criar precedentes com potencial de
minar o efeito dissuasório da Lei e a confiança no próprio Estado de Direito,
favorecendo uma cultura de impunidade.
Novas
regras
O
decreto é assinado anualmente pelo presidente da República e estabelece regras
para que o condenado possa receber o perdão da pena. O de 2017 diminui para um
quinto o tempo de cumprimento da pena para que o preso possa receber o
benefício, independentemente do total da punição estabelecida na condenação. No
ano passo, somente os sentenciados a no máximo 12 anos e que já tivessem
cumprido um quarto da pena, foram beneficiados, desde que não reincidentes.
Domingo,
24 de dezembro, 2017 ás 00hs05
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