O
espetáculo dos próximos dias não vai ser nada edificante. O tom já subiu na
internet, e o barraco vai para os jornais e a televisão. Na hora do vale tudo,
o bom senso e a ética ficam em suspenso, como primeiras vítimas da batalha
eleitoral.
O
reinado dos marqueteiros trouxe do mundo do business as técnicas de persuasão
que buscam eficiência a qualquer custo, mesmo forçando a barra. Na batalha
eleitoral, especialmente, não há conselho de auto-regulação, como o Conar, que
possa pôr limites.
Com
o crescimento de Marina nas pesquisas, ameaçando a reeleição de Dilma, a
ex-ministra virou o alvo preferencial. Agora é a aliada dos banqueiros, dos
homofóbicos, vai acabar com o pré-sal, tirar o bolsa-família e a comida do
prato das crianças. O joga pedra na Marina aparentemente está dando certo, pois
sua vantagem caiu.
Denegrir
o concorrente é crime, mas só nos negócios: publicar, inclusive pela internet,
falsa afirmação, ou divulgar falsa informação, em detrimento de concorrente,
com o fim de obter vantagem é punido com prisão. Empregar qualquer meio
fraudulento, para desviar a clientela de outrem é outra figura de crime de
concorrência desleal, e os casos são frequentes na justiça (Lei 9279/96, art.
195).
As
regras da eleição são mais tênues, como estamos vendo todos os dias. O
princípio é a liberdade de conteúdo e de expressão do pensamento, sendo punidas
apenas a calúnia, difamação e injúria. É proibida também a divulgação de fato
inverídico (só fato mesmo, não opinião ou interpretação) capaz de influenciar o
eleitorado. A ação da justiça eleitoral é limitada, e o eleitor fica um pouco
aturdido.
As
técnicas que estamos vendo nessa campanha já foram descritas, desde os anos 50,
por Jean-Marie Domenach[1], intelectual francês que estudou a estratégia do
nazismo e do fascismo: simplificar, usar fórmulas, definir um inimigo,
concentrar nele os ataques, destruir suas teses, desconsiderá-lo, desmenti-lo,
ridicularizá-lo.
Esconder
os próprios pontos de fragilidade e atacar os do adversário, amplificando e
distorcendo; lançar ameaças veladas; fazer promessas, adaptar o tom a cada
público, buscar o sentimento predominante (mesmo despropositado); criar ilusão
de maioria, mostrar poder. Parecem regras simples, e realmente são. Tão simples
como difíceis de combater.
Há
quem veja como superadas, no mundo virtual, as análises clássicas, que seriam
mais apropriadas aos comícios e ao rádio. A interatividade, com certeza,
aumenta o pingue-pongue e permite respostas imediatas, mas o bombardeio no
horário eleitoral continua fazendo vítimas. A vantagem dos mais velhos é
justamente a de poder fazer essas conexões com o passado, e tentar descobrir no
panorama contemporâneo o que está longe de ser novidade.
Na
atual sociedade hiper-pseudo-interativa, a propaganda procura opor sem nuanças
o bem e o mal, construindo um discurso verossímil que reduz muito as
possibilidade de crítica ou contestação. Desloca e perverte, assim, a razão
cidadã, como denunciado em importante e recente simpósio que virou livro e pode
ser acessado na rede.
Estamos
na reta final. Ninguém gosta de entregar a rapadura. Ninguém gosta de morrer na
praia. No final, só sobrará um vencedor, ou vencedora. No meio do tiroteio
cerrado, está o eleitor que, depois de tantas promessas falsas, de tantas
decepções, aprendeu a desconfiar. Bem ou mal, é ele quem vai dirigir a cena do
duelo final.
Por Eduardo
Muylaert
Sábado, 20 de
setembro, 2014
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