O
mutirão nacional contra o Aedes Aegypti convocado pela Presidente Dilma, lembra
um episódio na antiga China de Mao Tse Tung, em que o líder comunista convocou
a população do campo e das cidades chinesas para matar pardais. Isso mesmo, em
um delírio autoritário, Mao acordou certa manhã e julgou ter uma brilhante
solução para aumentar a produção agrícola chinesa, tornando-a capaz de
alimentar suas centenas de milhões de habitantes. Ordenou então que todos os
chineses saíssem à caça de pardais, que para ele representavam enorme ameaça às
plantações de grãos, base da alimentação de seu povo. A população atendeu o
chamamento do ditador (até porque desobedecê-lo resultaria em mais do que
fome). Todos, estudantes, operários, lavradores, soldados, professores, saíram
às ruas para caçar os infelizes pássaros. Reza a lenda que os pardais que não
eram trucidados pela população, morriam de cansaço, porque simplesmente era
impossível encontrar um local livre de seus algozes. Pois bem, os pardais foram
dizimados, mas as lagartas, que eram por eles comidas, proliferaram livremente
e causaram muito mais males às plantações do que os pardais.
Da
mesma forma, houve uma época em que se dizia que ou o Brasil acabava com a
saúva, ou a saúva acabaria com o Brasil.
Relato
estes exemplos apenas para demonstrar a inigualável criatividade dos
governantes para eximir-se de suas responsabilidades, sempre atribuindo a
dificuldade de resolver os problemas a fatores extraordinários.
A
incapacidade sistêmica do Brasil de dar fim ou ao menos reduzir a níveis
aceitáveis a proliferação de um mosquito, dá bem a dimensão da
irresponsabilidade e da incompetência de nossos governantes. Enquanto a enorme
maioria de nossa população não tiver acesso ao saneamento básico, enquanto a
periferia de nossas cidades conviver com água não tratada e com esgotos a céu
aberto, por mais que a população de esforce, o problema persistirá. Pouco
adianta a Presidente, como Mao, recorrer a um chamado patriótico para a união
nacional em torno do combate a um inseto, se o governo não der cumprimento às
suas responsabilidades e investir maciçamente em saneamento.
Este
não é um problema apenas do governo federal, deste ou dos passados, mas o
contínuo descaso nos levou a uma situação trágica, como a multiplicação dos casos
de microcefalia. Há décadas, a população brasileira vem sendo acometida pela
dengue. Absurdamente, passou a fazer parte da rotina das famílias ter alguém
acometido pela doença, com consequências naquela época de pouca gravidade. Os
surtos se repetiam, nada de efetivo foi feito para combater o mosquito e a
dengue hemorrágica se alastrou, causando já centenas de mortes. Mesmo assim,
apenas o fumacê e esparsas campanhas educativas continuaram a ser o remédio
aplicado. Para se ter uma ideia, há hoje milhares de pessoas que foram
acometidas por dengue há dois anos e que ainda não tiveram o diagnóstico
confirmado por exames laboratoriais.
No
Brasil de hoje, a Presidente Dilma, como fez Mao Tse Tung, faz um apelo à nação
para se envolver, num tom patriótico, num chamamento heroico para salvar o país
do mosquito. O povo brasileiro vai atender a esse chamado, mas não esquecerá
que tivessem ela e os demais governantes cumprido seu dever, certamente a
situação seria outra.
Mao
está hoje embalsamado na Praça da Paz Celestial, louvado apenas pelos mais
antigos, visto quase com indiferença pelas novas gerações da China Moderna. Um
símbolo de um tempo que muitos preferem esquecer. Mas os pardais foram
dizimados. As saúvas continuam por ai. Quanto a Dilma e aos mosquitos, vai
depender do povo brasileiro.
*****Paulo Marcelo Ribeiro
Costa, advogado, é assessor parlamentar do Senador Tasso Jereissati.
Sábado,
20 de fevereiro, 2016
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