Viramos
o ano levando uma herança nada positiva: 2015 parece não querer acabar.
Impeachment, Lava Jato, crise econômica, desemprego, recessão prolongada,
inflação alta, falta de credibilidade do governo são traços de continuidade
transferidos para 2016. O Carnaval se aproxima, e não há muitos motivos
alimentando a folia.
Depois
do feriado, faltarão apenas sete meses e meio para as eleições municipais. E aí
será hora de jogar foco numa das faces mais dramáticas da atual crise do país:
o estrangulamento dos municípios brasileiros. Inclusive, essa realidade
angustiante levou diversos prefeitos a cancelar os eventos do Carnaval.
Num
país continental e com tamanha diversidade como o Brasil, a descentralização
deveria ser diretriz principal. A defesa do redesenho do pacto federativo e do
municipalismo, mais que retórica política, é uma necessidade histórica. Não é
possível a nenhum governo abraçar o Brasil, suas diferenças e suas
desigualdades a partir de Brasília. A descentralização financeira e
administrativa tornaria as políticas públicas mais coerentes com a realidade
regional e local, diminuiria custos operacionais e de intermediação e aguçaria
o controle social. No entanto, não é esse o rumo.
Os
municípios atravessam a maior crise das últimas décadas. Muitas prefeituras se
encontram com salários atrasados. Manter o pagamento de fornecedores essenciais
em dia é um luxo. O nível de investimentos é próximo de zero.
Sabemos
todos que o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias entre os países
emergentes, aproximadamente 37% do seu PIB. Mas os recursos ficam concentrados
nas mãos do governo federal, que abocanha 60% do total dos tributos. Aos
municípios restam apenas 15%. Porém, as demandas sociais explodem é no âmbito
municipal.
A
crise atual e suas repercussões no plano municipal têm raízes na condução
desastrosa da economia nos últimos anos e em múltiplas faces: recessão abalando
o desempenho da economia e fazendo despencar as receitas do ICMS, da Cide, do
FPM e do ISS; desonerações unilaterais pelo governo federal, retirando receitas
sem compartilhamento das decisões; novos encargos importantes oriundos de
decisões nacionais, mas sem a devida contrapartida financeira (piso nacional
dos professores, política de valorização do salário mínimo, piso do agente
comunitário, sobrecarga no transporte escolar e na assistência à saúde).
Mesmo
municípios com maior autonomia sofrem com a drástica redução dos royalties
derivada de problemas setoriais (mineração, petróleo e energia). E, para
agravar o quadro, a interrupção radical da transferência de recursos de
convênios e financiamentos por parte dos governos federal e estaduais.
Dentro
da necessária agenda de reformas estruturais para relançar o país na trajetória
do desenvolvimento, é imprescindível colocar o fortalecimento dos municípios no
centro das discussões sobre a reforma do Estado, a reforma tributária e fiscal
e a nova dinâmica federativa.
(Marcus
Pestana é deputado federal pelo PSDB.)
Terça-feira,
02 de fevereiro, 2016
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