Lula
convocou o "exército" do MST - nas palavras dele para defender o PT
nas ruas. Até que enfim alguém faz algo concreto em defesa do nascente e
moribundo governo de Dilma 2, a missão. A esta altura dos acontecimentos,
talvez só mesmo um exército usando a força bruta possa salvar o mandato da
grande dama - porque na legalidade está difícil.
Mas
não tem problema, porque o PT sabe que esse negócio de legalidade não tem a
menor importância. Pelo menos não para quem tem bons despachantes, doleiros
diligentes e militantes bem pagos dispostos a tudo. Lula convocará todos os
seus exércitos até o dia 15, se possível com o auxílio sofisticado de alguns
depredadores de elite. Entre uma soneca e outra, o Brasil está programando sair
às ruas nesse dia. E não é de vermelho.
Cumpre
ao grande líder, portanto, reunir todas as forças populares de aluguel para
mandar o Brasil de volta para casa, que é o lugar dele.
Tudo
isso acontece num momento histórico para o país. Após anos de trabalho
exaustivo, o PT conseguiu o que parecia impossível: rebaixar a Petrobras à
categoria de investimento especulativo. Não pensem que isso é tarefa fácil, nem
para o mais laureado dos parasitas.
Tratava-se
da oitava maior empresa do mundo, que ia ficar maior ainda após a descoberta do
pré-sal. Jogar a Petrobras na lona, levando-a a perder o grau de investimento e
a sair vendendo bugigangas como uma butique em liquidação é façanha para
poucos. Os brasileiros que sairão às ruas no dia 15 só podem estar com inveja
dessa obra-prima.
O
Brasil deu 16 anos consecutivos de mandato presidencial ao PT, e pode-se
afirmar com segurança que uma grossa fatia desses votos foi dada em defesa do
nacionalismo - em defesa da Petrobras. Lula e o império do oprimido
conquistaram o monopólio da defesa do que é nosso e não têm culpa se o povo não
entendeu que eles estavam lutando pelo que é "só nosso". No caso, os
dividendos bilionários que a Petrobras podia dar a um esquema subterrâneo de
sustentação política. É mais ou menos como a situação do padre pedófilo, que
guarnece a pureza da criança para poder abusar dela.
Os
brasileiros levaram essa curra ideológica e continuam relaxados. Ninguém deu
queixa. A Operação Lava Jato continua sendo assistida como um filme de
gângsteres, como se isso se passasse na cabeça de algum roteirista de
Hollywood. Um mistério insondável permanece impedindo que se entenda por que as
vítimas do estupro ainda não botaram os gângsteres para correr. Talvez isso
comece a se esclarecer no dia 15 de março de 2015. Ou não.
Em
junho de 2013, o petrolão ainda não tinha jorrado nas manchetes em todo o seu
esplendor. Mas o mensalão e seus sucedâneos já revelavam a jazida de golpes do
governo popular contra o Estado - esse que o PT jurava defender contra a sanha
da direita neoliberal. Ou seja: o padre pedófilo já estava escondido com a
batina de fora, não via quem não queria. Foi então que o Brasil saiu às ruas
indignado, disposto a dar um basta nos desmandos que já lhe custavam, entre
outras coisas, a subida da inflação e o aumento do custo de vida. O padre
pedófilo assistiu àquela explosão de olhos arregalados, certo de que tinha sido
descoberto e de que agora vinham buscar o seu escalpo. Mas os revoltosos nem o
notaram, e ele pôde até, tranquilamente, estender seu tempo de permanência na
paróquia. Foi o fenômeno conhecido como a Primavera Burra.
Agora
o outono se aproxima, com ares primaveris. As vítimas do abuso começam,
aparentemente, a entender que o seu protetor é o seu algoz. Como sempre no
Brasil, tudo muito lento, meio letárgico e confuso, com as habituais cascas de
banana ideológicas largadas no caminho pelo padre - "a culpa é de
FHC", "querem a intervenção militar", "é a burguesia contra
o Bolsa Família" etc. Como escreveu Fernando Gabeira, o velho truque de
jogar areia nos olhos da plateia - única instituição que dá 100% certo no
Brasil há 12 anos. O problema é que, mesmo com areia nos olhos, está dando para
ver que o petrolão ajudou a financiar a reeleição de Dilma. E agora?
Agora
é hora de tirar a batina do padre e mostrar que o rei está nu. Sem medo dos
exércitos de aluguel que farão o diabo para defender o que é nosso (deles).
GUILHERME
FIUZA
Do
mingo, 8 de março, 2015
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