Tem
acontecido, de quando em quando. É raro, mas em certas ocasiões os repressores
negam-se a reprimir a multidão em revolta, integrando-se nela e contribuindo
para o sucesso de suas reivindicações. Quando o povo cercou a Bastilha um corpo
de Artilharia foi enviado para dispersá-lo, mas usou os canhões para derrubar
muros da fortaleza. Há outros exemplos,
na História.
Já
imaginaram se hoje no Rio, São Paulo, Brasília ou qualquer capital, soldados
das Polícias Militares se reunirem aos manifestantes, de braços dados,
marchando juntos para exprimir protestos iguais? Porque os militares, tanto
quanto estudantes, operários, funcionários civis e povo em geral sofrem pela
desídia do poder público. Ganham pouco,
enfrentam os mesmos percalços e sacrifícios, do transporte coletivo à falta de
hospitais e escolas. Enfrentam a bandidagem e irritam-se ao saber dos abusos e
da bandalheira dos governantes. Como regra, curvam-se às determinações ditadas
pela hierarquia e a disciplina, mas não terão seus momentos de indignação?
Na
hora de investir contra o povo, poderão hesitar. Não se fala dos baderneiros, depredadores,
black-blocs e sucedâneos, mas do
vizinho de quarteirão, do jovem que conheceu no trem, no ônibus ou na
fila do posto de saúde. Um belo dia
essas coisas acontecem: em vez de usar cassetetes e bombas de gás, poderá quem
usa farda engrossar as fileiras do povo? Será aplaudido. É tanto cidadão quanto
soldado.
AS
CONSEQUÊNCIAS
Contando-se
com o sucesso das manifestações de hoje em todo o país, com votos para que tudo
transcorra pacificamente, a pergunta seguinte envolve suas consequências. Fará
o quê, o governo Dilma, se centenas de milhares de pessoas tiverem expressado
sua rejeição? Seria hora de mudar, não havendo nenhum desdouro em mudanças
ditadas pela necessidade. Mas teria a presidente percepção e coragem para
tanto? A sombra do desemprego paira sobre a Petrobras e afins, com previsões
assustadoras. Não haverá nada a fazer? Dos 39 ministros pelo menos a metade não
disse a que veio. Que tal despachá-los? Os impostos e taxas subiram, os
combustíveis também, além do preço de gêneros de primeira necessidade. Cortes
no orçamento da educação, da saúde e da segurança pública prejudicam a vida da
maioria da população. Não haverá forma de compensá-los com parte do lucro dos
bancos ou o imposto sobre grandes fortunas? Antes de tudo, e muito mais, porém
seria com que Madame ouvisse a voz das ruas. Descesse do pedestal para sentir o
cheiro de povo.
(Carlos Chagas)
Domingo,
15 de março, 2015.
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