Vivemos um momento de crise sanitária,
econômica e social em decorrência da pandemia da COVID-19, mas é certo que essa
crise não atinge uniformemente toda a sociedade. A desigualdade social está
presente de forma acentuadíssima no Brasil, como retratado no relatório da
OXFAM, A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras: “o
Brasil é um dos piores países do mundo em matéria de desigualdade de renda.
Mais de 16 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza”.
Esse
abismo social está intrinsecamente relacionado à maneira como as pessoas
vivenciam a situação atual. Claro é que, inserida nesse quadro nefasto, está a
Educação: crianças e adolescentes que se encontram no ensino fundamental e
médio sofrem a mesma produção da desigualdade. Um exemplo que ilustra bem essa
situação atualmente é que, enquanto grande parte dos alunos de escola
particular permanece com as aulas, ainda que de forma não presencial (com aulas
on-line/videoaulas), com os privilégios inerentes à classe e à circunstância, a
maioria dos alunos de escolas públicas no Brasil encontra-se sem qualquer
possibilidade de ter esse atendimento.
A
situação é peculiar. Como forma de conter os avanços da pandemia decorrente da
COVID-19, as autoridades competentes recomendam o distanciamento social, o que
certamente deve ser cumprido. Entretanto, sem a concomitante proposta de
políticas públicas específicas, as classes menos favorecidas sofrem o grave
afastamento do sistema educacional, realidade diversa da dos alunos de
instituições particulares, cuja estrutura lhes permite certa qualidade e
constância no ensino e na aprendizagem.
Assim,
a diferença no tratamento é reforçada – e reforça – pelo problema brasileiro da
abismal desigualdade em relação à infância e à adolescência. Enquanto parte dos
jovens tem assegurado seu direito integral ao ensino, dados do PNAD 2016
demonstram que cerca de 1,8 milhão de crianças e jovens entre 5 e 17 anos
trabalham no país para garantia da própria sobrevivência e da sua família.
*CartaCapital
Terça-feira,
26 de maio, 2020 ás 10:00
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