“E
daí? Antes de conhecer meus filhos, eu conheci o Ramagem. Por isso deve ser vetado?
”
Bolsonaro
planeja implantar no governo uma polícia política que monitore seus desafetos e
esqueça das investigações relacionadas a ele e seus filhos. O STF, porém,
frustrou temporariamente suas intenções
A
disputa pelo controle da Policia Federal virou o centro de uma grave crise no
governo e provoca o maior conflito entre poderes desde que o presidente Jair
Bolsonaro assumiu. Em jogo está o aparelhamento da força pública, que, para
Bolsonaro, é questão de honra e uma necessidade estratégica, e para a democracia
brasileira é uma afronta. Como declarou para Moro, Bolsonaro quer alguém que
controle na direção-geral da PF. E seu nome é Alexandre Ramagem, ex-chefe de
segurança de sua campanha que iria deixar a chefia da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) e estava a caminho de assumir o novo cargo. Mas, devido a
uma liminar concedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), quarta-feira 29, o plano de Bolsonaro precisou ser adiado e
Ramagem dificilmente terá outra chance. Moraes suspendeu a nomeação
argumentando que ela fere os “princípios constitucionais da impessoalidade, da
moralidade e do interesse público”, além de ser uma escancarada tentativa de
interferência política na PF.
Embora
o presidente tenha partido para o ataque e questionado a decisão de Moraes,
alegando que ela representa uma interferência política indevida entre os
poderes, ele próprio já decretou a impossibilidade de nomear seu protegido ao
declarar para Moro que queria na direção-geral da polícia “uma pessoa de
contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações
e relatórios de inteligência”. Moro respondeu que “realmente não é o papel da
Polícia Federal prestar esse tipo de informação” e pediu demissão. Por suas
declarações, Bolsonaro se tornou suspeito para nomear o diretor-geral agora ou
no futuro. Como destacou o deputado Alessandro Molon, em entrevista para a
ISTOÉ, ficou claro que o plano de Bolsonaro é transformar a PF em uma polícia
política, que monitore seus desafetos e esqueça das investigações relacionadas
a ele e seus filhos, como a de disseminação de fake news, que envolve o
vereador Carlos Bolsonaro, e o esquema das rachadinhas, de apropriação dos
salários de assessores, instalado no gabinete de senador Flávio Bolsonaro
quando ele era deputado estadual. Bolsonaro pretende direcionar a PF para fazer
as investigações que lhe interessem e abasteçam o gabinete do ódio controlado
por Carlos, que hoje comanda a comunicação do governo. Carlucho, como é
chamado, quer o controle dos serviços de inteligência. Mas, como destacou
Alexandre de Moraes, “a PF não é órgão de inteligência da Presidência da
República”. Dois ministros do STF, Luis Roberto Barroso e Gilmar Mendes
defenderam Moraes dos ataques de Bolsonaro. Para Mendes, eles não passam de
“censura personalista aos membros do Judiciário”.
A
deputada Joice Hasselmann declarou em entrevista para a CNN que a nomeação de
Ramagem para a PF seria “uma tragédia”. “Ramagem é amiguinho próximo, baladeiro
próximo do Carlos Bolsonaro. São amigos, parceiros de festa, de balada”, disse
a deputada. Ela lembrou que, no início do governo, Carlos tentou criar “uma
Abin paralela para grampear ilegalmente pessoas, fazer dossiês falsos e para
perseguir” e queria, justamente, “emplacar Ramagem como comandante dessa Abin
paralela, que foi barrada pelo Gustavo Bebianno e o Santos Cruz à época”.
Ramagem acabou comandando a própria Abin, que serve bem ao governo, mas está
longe da capacidade operacional da PF. Depois de reagir às acusações de Moro e
dizer que a PF “jamais deve ser atingida por interferências políticas”, a
Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) divulgou uma nota, assim
que Ramagem foi indicado, em que declarava ver com “tranquilidade” sua
nomeação. “A entidade considera que Ramagem é um policial perfeitamente
qualificado para o cargo e tem o respeito da categoria”, informou a nota. Um
dia depois, diante da medida de Moraes, a Fenapef disse que “aguardará a
reversão da decisão pelo Pleno do STF”. O que se espera é que a decisão de
Moraes seja mantida pelo bem da República. As intenções declaradas de Bolsonaro
de aparelhar a PF tornam a nomeação de Ramagem no mínimo escandalosa.
O
substituto do ex-juiz Sérgio Moro no Ministério da Justiça e Segurança Pública,
o advogado André Mendonça, assumiu o cargo fazendo elogios ao presidente Jair
Bolsonaro e prometendo uma atuação técnica à frente da pasta. Mendonça chamou
Bolsonaro de “profeta no combate à criminalidade” e se classificou como um
“servo”. Sem citar Moro, o novo ministro prometeu aumentar o número de
operações da PF. (Com a IstoÉ)
Sexta-feira,
1º de Maio, 2020 ás 17:30
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