A
resistência de ministros em cumprir a ordem do presidente Jair Bolsonaro de
entregar cargos de segundo e terceiro escalões para os partidos do chamado
Centrão tem atrasado as nomeações de indicados pelas siglas e gera insatisfação
de dirigentes partidários.
O
trato firmado pelo Palácio do Planalto era para que a maioria das indicações
fosse publicada nesta semana no Diário Oficial da União. O prazo dado por
auxiliares de Bolsonaro para que os nomes passassem por pente-fino para
verificar antecedentes já teria terminado.
Até
o momento, no entanto, a maior parte não foi efetivada. Isso aumentou a
desconfiança se, de fato, o presidente cumprirá o prometido. O maior incômodo
com a orientação do presidente tem sido manifestado por ministros do núcleo
ideológico e da equipe econômica.
Em
conversas reservadas, a principal crítica é a de que Bolsonaro tem contrariado
seu discurso de campanha e colocado em risco o apoio de parcela do seu
eleitorado. Segundo líderes do Centrão, o ministro Abraham Weintraub (Educação)
é um deles.
Chegou
a congressistas o relato de que ele teria ficado tão contrariado com a
obrigação de ceder a presidência e a diretoria do FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação) que sugeriu ao ministro Walter Braga Netto (Casa
Civil) que assumisse o órgão em sua pasta. Braga Netto, no entanto, teria
recusado a oferta.
Sob
a ameaça de ser exonerado, Weintraub cedeu —Bolsonaro avisou que suas
indicações deverão ser respeitadas sob pena de demissão. Segundo relatos,
porém, o ministro disse que criaria critérios de gestão e governança no órgão
federal. A presidência do FNDE foi prometida ao Progressistas. Já as diretorias
do fundo serão divididas entre PL e Republicanos, por exemplo. Os nomes já
foram enviados.
O
FNDE é estratégico aos congressistas por ser capaz de irrigar grandes obras, o
que pode ser explorado em futuras campanhas eleitorais.
O
ministro Paulo Guedes (Economia) é outro que se incomodou com a orientação de
Bolsonaro. Ele embarreirou algumas sugestões para o Banco do Nordeste, segundo
congressistas e integrantes do governo. O órgão está prometido para o PL, de
Waldemar Costa Neto.
Além
dos dois, segundo relatos de assessores presidenciais, os ministros Onyx
Lorenzoni (Cidadania) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) também teriam se
incomodado com o loteamento partidário da máquina pública.
Em
um contraponto, o núcleo militar não tem demonstrado resistência à tentativa do
presidente de formar uma base aliada, mesmo se aliando ao que ele mesmo já
chamou de “velha política”.
A
avaliação é a de que chegou a hora de Bolsonaro mudar a retórica e formar uma
base aliada para conseguir aprovar medidas de impacto econômico.
“Temos
de buscar uma coalizão programática. É óbvio que cargos, emendas e essas coisas
fazem parte da negociação entre Executivo e Legislativo”, disse na terça-feira
(12) o vice-presidente Hamilton Mourão. “Não adianta querer tapar o sol com a
peneira. Acho que está mais ou menos sendo conduzido dessa forma. ”
Embora
avancem, as negociações são marcadas por desconfianças de ambos os lados. Do
lado do Congresso, a avaliação de líderes partidários é a de que o Planalto
pode querer entregar as demandas a conta-gotas para verificar se os deputados
também cumprirão sua parte no acordo. Isto é, se votarão com o governo e
defenderão Bolsonaro.
Neste
último aspecto, os congressistas já têm dado contribuição ao tentar blindar o
presidente das críticas e acusações de que ele teria tentado interferir na
Polícia Federal, como acusou o ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança
Pública).
Desde
que as legendas do Centrão começaram as negociações, há mais de um mês, dois
cargos foram publicados no Diário Oficial da União. A estreia foi na semana
passada, com a publicação da nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão como
diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), com
salário de R$ 16.944,90.
A
autarquia federal, vinculada ao MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), é
responsável pela construção de barragens e açudes nas regiões áridas. Tem forte
caráter assistencial no Nordeste.
Também
na última semana, o governo nomeou Tiago Pontes Queiroz como secretário
nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional, também do MDR. Ele foi
indicado pelo Republicanos e entrou no lugar Adriana Melo Alves.
Segundo
aliados do ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), ele decidiu dar
à servidora uma Diretoria dentro da própria secretaria para que ela mantivesse
influência no setor. Há ainda outros cargos que foram colocados na mesa à
espera da nomeação.
A
Secretaria de Vigilância em Saúde, do time do ministro Nelson Teich (Saúde),
foi prometida ao PL. O PP também abocanhará espaços no Ministério da Saúde,
como a Funasa.
Outros
77 cargos federais nos estados foram colocados, de acordo com congressistas, à
disposição dos partidos em troca de apoio. As legendas dividem entre si esses
postos de acordo com o tamanho de cada partido.
*Folha
Sábado,
16 de maio, 2020 ás 10:00
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