Há
gente experta na política a vaticinar que o Brasil só escapará da encalacrada
atual depois de esborrachar-se no muro. Não bastaria antever a aproximação do
armagedom para mudar de rota. Seria preciso experimentá-lo.
Souvarine,
o sabotador anarquista do "Germinal" de Zola, era um esteta do
gênero: "Ateiem fogo aos quatro cantos das cidades, ceifem os povos,
arrasem tudo e, quando nada mais sobrar deste mundo podre, talvez surja dele um
melhor", dizia e praticava. A proclamação chega a ser esplêndida na literatura.
Quando acontece na vida vivida, é apenas desgraça.
É
para a desgraça certa que se desenrolam os acontecimentos da política
brasileira. Estivesse a crise resumida a quizilas de poder, não haveria razão
para desespero, mas ela arrasta para o fogo a segurança material de 200 milhões
de almas.
O
problema é como restaurar a responsabilidade dos atores políticos no momento em
que o príncipe do nosso sistema, o presidente da República, reduziu-se a figura
simbólica. A saída mais rápida seria repactuar forças em torno de Dilma
Rousseff, o que no entanto tem sido dificultado pela inapetência da presidente
e pela sua proximidade dos vetores desagregadores representados por Lula e pelo
PT.
Não
será possível salvar o governo Dilma, o ex-presidente Lula e o PT. Se a
presidente continuar conectada ao seu mentor e ao seu partido, ninguém mais
chegará perto dela para negociar saídas. O isolamento ficará tão intenso que a
renúncia se tornará um recurso de misericórdia.
Outra
opção seria organizar em torno de Michel Temer um governo de fato, fundado na
partilha de responsabilidade com grupos dominantes no Congresso. A substância
do acordo teria de conter reformas dolorosas nas despesas e nas receitas do
Estado, além da "despetização" do Executivo. A um pacto forte assim,
Dilma seria obrigada a submeter-se ou cair fora.
Vinicius Mota
(Da redação
da folha de S. Paulo)
Domingo, 06
de setembro, 2015
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