O
procurador da República Deltan Dallagnol rebateu nesta terça-feira, 3, as
críticas de internautas que discordaram da mistura entre religião e política. O
coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná anunciou que faria
jejum e orações durante o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula no
Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para esta quarta-feira.
Segundo
o procurador, a causa de sua oração e jejum é para refletir sobre a corrupção e
a impunidade. “Ter fé e expressar a fé é uma liberdade religiosa que todo cidadão
tem direito na democracia. Um promotor não deixa de ser cidadão. Eu manifestei
a minha oração, me expressei na rede social, em um perfil pessoal e que está
fora do meu ramo profissional”, disse, em entrevista à rádio "Jovem
Pan".
Deltan
é um dos integrantes do Ministério Público que, aliados com representantes do
Judiciário, protocolaram uma nota técnica em favor da prisão na segunda
instância. Nesta quarta-feira, por ocasião do julgamento de um habeas corpus do
ex-presidente Lula, já condenado nas duas instâncias, a alta Corte avalia se o
cumprimento da pena deve aguardar o fim de todos os recursos. Uma decisão
favorável aos réus — diferente do entendimento do STF de 2016 — arrisca colocar
em xeque, segundo o procurador, os quatro anos de trabalho da Operação Lava
Jato e garantir a "impunidade sistêmica". Deltan Dallagnol ressaltou
que não se trata somente do caso Lula.
“As
pessoas não estão percebendo que não é só o caso Lula. É o caso Lula. É o caso
Renan [Calheiros], o caso Aécio Neves, se eles perderem o foro, é o caso do
Eduardo Cunha, que está preso em primeira instância. É o caso de todo poderoso
que praticou crimes graves”, diz. O procurador ainda afirma que a
medida não diz respeito só aos crimes de corrupção, mas também outros casos,
como homicídios.
"Estamos
prestes a jogar tudo o que foi feito no lixo por meio de uma mudança de
entendimento que vai continuar a impunidade (…) Se o Supremo impedir [a prisão
após segunda instância] vai impactar não só a Lava Jato. Não tem motivo para
mudar entendimento. Se mudar essa regra vai ser um marco de impunidade. Vai
soltar corruptos, traficantes, pedófilos. E não é alarmismo",
ressaltou Deltan, na entrevista.
Críticas a Gilmar Mendes
O
procurador criticou a postura do ministro Gilmar Mendes que, segundo ele, “em
2016, fez uma defesa muito forte a favor da prisão em segunda instância e,
agora, a meu ver de modo inexplicável, ele mudou para o contrário”.
Deltan defende que a mudança em dois anos desgasta a credibilidade do Supremo e
coloca em questão a sua imparcialidade.
Ciclo da Corrupção
Para
o procurador, as recentes decisões do ministro Dias Toffoli, do STF, acerca da
concessão da prisão domiciliar ao deputado Paulo Maluf (PP-SP) e da suspensão
da inelegibilidade do ex-senador Demóstenes Torres (GO) são retratos do ciclo
da corrupção pelo qual passa o País.
Sobre
Maluf, o procurador disse que o caso do deputado pode resumir esse ciclo. “Corrupção
é difícil de descobrir, depois difícil de comprovar, difícil de não ser
anulado. Se não for anulado, vai demorar anos e vai prescrever. Se não
prescrever, vai ter pena pequena. Se não for, a pena vai ser indultada. Se não,
o réu fica doente e vai para casa”, afirmou.
Já
sobre Demóstenes, ele declarou: “Nós precisamos romper o ciclo de que propina
gera eleição, então precisamos barrar a eleição de pessoas condenadas por
corrupção. Nesse sentido, com todo respeito, a decisão do ministro Dias Toffoli
é um grande retrocesso”.
Quarta-feira,
4 de abril, 2018 ás 00:05
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