O
ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso disse nesta terça
(10) que as transformações produzidas pelo combate à corrupção no Brasil
enfrentam a reação dos que não querem ser punidos e também "dos que não
querem ser honestos nem daqui para a frente". O ministro fez uma palestra
na abertura do 7º Encontro de Resseguros do Rio de Janeiro e avaliou que o
Brasil vive uma cultura da desonestidade, em que parte dos políticos,
empresários e burocratas firmaram um "pacto oligárquico de saque ao Estado".
"Hoje,
no Brasil, nessa reação às transformações, há dois lotes, o lote dos que não
querem ser punidos pelos malfeitos que fizeram, o que consigo entender, é da
natureza humana. E tem um lote pior, dos que não querem ser honestos nem daqui
pra frente e gostariam que tudo permanecesse como está. É gente que não sabe
viver sem que seja com o dinheiro dos outros, sem que seja com dinheiro
desviado".
Para
o ministro, a reação às transformações que ele acredita estarem em curso é
evidente, porque o processo afeta pessoas que se consideravam fora do alcance
da lei. "A reação é muito evidente. As transformações estão atingindo
pessoas que sempre se julgaram imunes e impunes, e por essa razão, porque
achavam que o direito penal nunca ia chegar a elas, cometeram uma quantidade
inimaginável de delitos".
O
magistrado afirmou acreditar que a cultura da desonestidade que criou "um
modo estarrecedor" de fazer política e negócios no país ainda não mudou,
apesar do combate à corrupção.
"Esse
paradigma ainda não foi rompido. As coisas ainda funcionam largamente
assim", disse ele. "O que ocorreu no Brasil foi um pacto oligárquico,
celebrado por parte da classe política, parte da classe econômica e parte da
burocracia estatal, de saque ao Estado brasileiro".
Para
o ministro, a sociedade brasileira deixou de "aceitar o inaceitável"
e parou de "varrer o problema para baixo do tapete".
"Acho
que já estamos conseguindo separar o joio do trigo, o problema é a quantidade
de gente que ainda prefere o joio", disse, acrescentando que a corrupção
não é de "direta nem de esquerda", é sistêmica. "Não é um
fenômeno de um governo, não é um fenômeno situado cronologicamente. É um
fenômeno que vem de longe e acumulativamente". (ABr)
Quarta-feira,
11 de abril, 2018 ás 00:05
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