Lula
virou, mexeu, mas não saiu do lugar. Sérgio Moro, o mais exímio enxadrista da
sua geração de juízes, aplicou-lhe um xeque e 40 horas depois, Lula continua em
xeque. Ganhou tempo para pensar se o xeque o deixou sem saída ou se há alguma.
Não parece haver.
Na
prática, Lula está preso desde que se refugiou na sede do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo do Campo na noite da última quinta-feira. Com a
diferença de que ali sua cela é mais ampla do que será a de Curitiba. E visitas
são permitidas a qualquer hora.
Ter
que dormir numa cama improvisada, sem frigobar por perto, sem a tv de 50
polegadas e de alta definição a qual estava acostumado, sem poder levantar de
madrugada e desfilar nu pela casa, enfim sem o conforto de estar em um lugar
que é seu, é um tremendo incômodo.
E
ter que ouvir o ex-senador Eduardo Suplicy a dissertar sobre as vantagens do
programa de renda mínima? E a ter que ouvir amiúde a vozinha irritante da
senadora Gleisy Hoffman, presidente do PT? E à algaravia infernal de
conselheiros, admiradores e até desconhecidos?
Em
uma de suas primeiras reuniões com ministros no Palácio do Planalto, em 2003,
Lula comentou irritado depois de ouvir uma sugestão estúpida: “Toda vez que
segui os conselhos da esquerda, me dei mal”. Não disse que se dera mal. Usou um
dos seus palavrões preferidos. Mas deixemos assim.
Nas
primícias do PT, a esquerda imaginou cavalgar Lula para com ele arrombar as
portas do poder. Arrombou de fato na quarta tentativa. Mas como Lula nunca foi
de esquerda e nem quis ser, foi ele que a cavalgou. Cavalga até hoje. Faz o que
quer com ela. Continuará a fazer, por ora.
Lula
sempre foi primeiro ele, segundo ele, terceiro, quarto, e suas circunstâncias.
Uma vez, deram-lhe uma apostilha com uma espécie de Raio-X da esquerda. Para
que ele a entendesse melhor. Páginas da apostilha que Lula jamais leu forraram
o chão da casa do cachorro dele.
O
líder das gigantescas greves do ABC paulista no início dos anos 80 foi também,
e na mesma época, o analista informal da Odebrecht para assuntos sindicais.
Está no depoimento a Moro do ex-presidente da construtora, Emílio Odebrecht. Já
gostava de viver de obséquios.
O
retirante da seca nordestina, que diz ter passado fome em São Paulo,
transformou-se em sócio da Odebrecht ao se eleger presidente da República.
Enriqueceu-a ainda mais, e enriqueceu, porque afinal ninguém é de ferro, nem
mesmo ele, o filho de dona Lindu, nascida analfabeta.
De
Garanhuns para o mundo, de acanhado língua-presa para “este é o cara” como o
saudou certa vez o presidente Barack Obama, Lula está a caminho de Curitiba.
Questão de horas. Ou de um dia a mais, quem sabe mais um. E somente os fados
impedirão que isso aconteça.
Enfim,
de preso político nos idos de 80 do século passado, que driblava greve de fome
chupando balinhas, a político preso, condenado por corrupção e lavagem de
dinheiro, à espera do julgamento de mais oito processos. É o epílogo notável de
uma biografia igualmente notável.
Por
Ricardo Noblat
Sábado,
7 de abril, 2018 ás 00:05
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