Chega
o Ano Novo (do calendário), e eu me sinto mais velho do que nunca. E o nunca é
uma palavra pesada porque — além de predispor quem a usa ao traiçoeiro cacófato
(veja-se, o trivial e horrível “nunca-ganha”) — ela se refere a um tempo sem
tempo...
O
fato, porém, é que o menino dentro de mim tem que segurar esses incríveis dois
milênios, uma década e seis anos. E o menino é também um velho — ou um jovem de
idade, como me diz um bondoso geriatra —, está tão alarmado quanto esperançoso.
Já tivemos passagens mais auspiciosas e menos vexatórias.
O
novo ano que era sempre “bom” tornou-se duvidoso. Todas as previsões
econométricas e éticas dizem que ele vai ser um ano ruim. Mas como festejar um
“mau ano” na virada protocolar com a qual marcamos o tempo, dividimos eras e,
mais uma vez, tentamos cortar a água?
Revolvi
calendários de muitas crises — suicídio de Vargas, golpe militar, ditadura, ato
institucional, prisões por motivos políticos, ódios partidários irremissíveis,
discussões acaloradas permeadas de bofetes, hiperinflação e roubalheiras com
macumba presidencial — e eis que muitos desses supostos antigos brasileirismos
estão na nossas costas neste ambíguo e novíssimo 2016.
Posso
fugir do espaço, mas não posso me evadir do tempo. E para aumentar minhas
ansiedades, inauguramos um belíssimo Museu do Amanhã justo num momento que o
amanhã ensolarado do progresso, da solução de problemas recorrentes, e de um
Brasil mais justo, administrado com mais rigor e honestidade, sumiu de todos
nós.
Em
2016, não será fácil “arrumar” esse nosso Brasil do qual sabemos mais do que
queremos. A restrospectiva é tenebrosa.
Jamais
vi em toda a minha vida um desmanche tão grande do drama político nacional.
Jamais
fui espectador de tantos atores medíocres tentando fazer o papel público que
lhes cabia desempenhar e, em pleno ato, desabando pela mais completa ausência
de sinceridade diante do papel. A presidente, por exemplo, não consegue acertar
as falas nem quando as lê!
No
Brasil sempre valeu o axioma do “aos inimigos a lei; aos amigos, tudo!” Menos,
é claro para o ex-presidente Lula, para a presidenta Dilma e para os petistas
graduados. Entre eles, não cabe esse lema político que tem fabricado a História
do Brasil e explicado o país mais do que a fábula da tal “Revolução Burguesa”.
Revolução aliás, com burguesia, mas sem os burgueses de Maupassant, Balzac e
Flaubert.
Vamos
entrar 2016 com a República nos devendo muito. Sobretudo no que tange ao
equilibrio delicado entre Executivo, Legislativo e Jucidiário, pois o que
testemunhamos é o alto risco de um total desequilibrio entre esses poderes.
Isso para não falar da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal.
Mesmo
não sendo pessimista, eu sei que devemos todos passar por um sério momento de
reconstrução da honestidade e do sentido de dever neste ano de 2016. Caso
contrário, morremos civicamente.
De
um lado, tudo retorna mas volta como farsa, conforme se gosta de repetir, mas
como densa tragédia; do outro, tudo vai ser novo e cristalino porque assim
exigimos. E nisso está, espero, o espirito de 2016.
Feliz
Ano Novo!
(Roberto
Damatta)
Quarta-feira,
30 de dezembro, 2015
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