Com
custo alto para os cofres públicos e inadimplência crescente - que bateu 53% em
janeiro -, o Programa de Financiamento Estudantil (Fies) será completamente
revisto pelo governo. Apenas em 2016 o custo global do Fies para o Tesouro
Nacional chegou a R$ 32,2 bilhões.
O
diagnóstico do rombo causado pelos benefícios não quitados deve ser divulgado
na próxima semana pelo Ministério da Educação (MEC). Novas regras de acesso e
pagamento das mensalidades estão prometidas para primeira quinzena de abril.
A
conta total inclui o funding (obtenção de recursos) das mensalidades pagas às
universidades privadas, os subsídios que barateiam o preço repassado aos
estudantes e as taxas pagas aos bancos que operacionalizam o programa.
Pelo
Fies, os estudantes do ensino superior têm cursos bancados pelo governo e
começam a devolver o dinheiro emprestado, em prestações, um ano em meio após o
fim do curso de graduação. Mas a conta não tem fechado porque mais da metade
dos alunos formados está inadimplente. Como o fundo garantidor com recursos das
instituições de ensino só cobre até 10% dos calotes, os débitos restantes
oneram ainda mais o orçamento federal.
Possíveis
mudanças no programa já assustam estudantes. Eles alegam que, mesmo com o
financiamento, a faculdade ainda custa caro, pois é necessário comprar livros e
outros itens exigidos pelos cursos. "Se eu perder o financiamento vou
acabar trancando o curso", diz a encarregada de obras Vanessa Mendes da
Silva, de 28 anos, aluna do 8.º semestre de Arquitetura e Urbanismo na Uninove.
"Paguei só o primeiro ano e, quando vi que poderia atrasar as
mensalidades, recorri ao financiamento", conta.
Mesmo
com o Fies, para bancar o curso Renan Soares, de 19 anos, faz estágio em
marketing digital em uma agência de publicidade. Ele é aluno do 3.º semestre de
Publicidade. "Eu não trancaria o curso (com mudanças), mas seria um
aperto”.
Alterações
Desde
o ano passado, o Ministério da Fazenda e o MEC já realizaram mais de 30
reuniões com representantes das universidades para chegar a um novo modelo.
As
mudanças devem estreitar ainda mais o funil para ingresso no programa. No ano
passado, o Fies passou a dar prioridade aos cursos com nota 4 e 5 nas áreas de
saúde e tecnologia, além das licenciaturas. "Demorou cem anos para que o
sistema de ensino superior público - estadual e federal - alcançasse a marca de
1,9 milhão de alunos matriculados. Já o Fies saltou de 200 mil para 1,9 milhão
de estudantes em cinco anos, entre 2010 e 2015", diz uma fonte do governo.
De acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o número
de financiamentos chega hoje a 2,441 milhões.
Para
o especialista da FGV e presidente da Federação dos Professores de São Paulo,
Celso Napolitano, ainda que o governo corrija os rumos do Fies, os calotes ao
programa devem continuar em alta nos próximos anos. "Em meio a essa crise
de desemprego, muitos (dos beneficiados) não conseguirão se posicionar no
mercado com capacidade de quitarem seus financiamentos", avalia.
No
setor privado não se espera que o MEC apresente no segundo semestre aquela que
seria a principal reforma em estudo, pelo menos desde 2015: a de um programa de
financiamento que combinasse incentivos do governo com funding privado. As
principais mudanças esperadas, portanto, envolvem alterações nos prazos de
duração dos empréstimos, período de carência e contribuição das instituições
privadas para o fundo garantidor, criado para ser um colchão para a
inadimplência do programa. (AE)
Quarta-feira,
29 de Março de 2017 ás 11hs00
ESPECIALISTAS DIVERGEM SOBRE
PONTOS DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA
O
governo debate a possibilidade de dar para os estados e municípios fazerem suas
reformas previdenciárias. Mas, caso isso não ocorra, os servidores estaduais e
municipais passarão a seguir as regras iguais para os servidores federais que
forem aprovadas pelo Congresso.
Enquanto
a proposta é analisada em Comissão Especial na Câmara dos Deputados, alguns
pontos geram divergências. Especialistas opinaram, nesta terça-feira (28),
durante audiência pública realizada na Casa.
Segundo
o economista Fabio Giambiagi, especialista na área e defensor de uma reforma,
alguns pontos da proposta deveriam ser alterados, como, por exemplo, a pensão
por morte.
Segundo
ele, o fim da acumulação da aposentadoria com pensão vai afetar muito os viúvos
ou viúvas porque alguns gastos grandes, como aluguel, continuam os mesmos após
a morte do companheiro.
Giambiagi
disse ainda que o cálculo do benefício deveria ser alterado para que uma pessoa
que chegasse aos 65 anos de idade, com 45 anos de contribuição, pudesse ter
100% do benefício. Pela reforma, isso só ocorreria com 49 anos de contribuição.
O
economista afirmou também que o problema da Previdência não é contábil, mas de
justiça social. Isso porque o sistema permitiria, por exemplo, aposentadorias
precoces em detrimento de gastos com saúde e educação.
Arrecadação
Já
Denise Gentil, professora da UFRJ, propôs que o governo pense em melhorar a
arrecadação tributária e a produtividade do trabalhador e não apenas em cortar
gastos. Denise sugeriu medidas como o combate à sonegação; a cobrança da dívida
previdenciária; a redução do mecanismo que desvincula receitas da Seguridade
Social; a revisão das desonerações; a criação de empregos formais; e um projeto
de desenvolvimento que envolva ganhos de produtividade:
"A
análise que corta os gastos é bem endereçada. Quem precisa das transferências
de renda do governo? Obviamente que são as pessoas mais necessitadas. Quem
ganha quando o governo passa a transferir menos? As pessoas que são mais
favorecidas pelos demais gastos do governo, particularmente aqueles com juros.
Então, uma reforma que corta gastos não é assim totalmente isenta e
desinteressada. Ela vem com um objetivo de pressão social", avaliou.
Envelhecimento
O
presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Marcos Lisboa, destacou
que o principal motivo para a reforma da Previdência é o envelhecimento
populacional. Segundo ele, a relação entre trabalhadores e aposentados vai ser
de dois para um daqui a 15 anos. Se nada for feito, em 2036, todo o gasto
público será destinado ao pagamento da Previdência, alertou.
Victor
Roberto de Souza, da Associação dos Juízes Federais do Brasil, disse que a
reforma, se aprovada, vai desencadear muitas ações judiciais. Ele citou como
exemplo a falta de explicação para as regras de transição restritas a pessoas
com idade de 45 anos ou mais para mulheres, e de 50 anos ou mais, para homens.
(Com informações Ag Câmara)
Quarta-feira,
29 de Março de 2017 ás 11hs00
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