O Supremo Tribunal Federal (STF)
pode decidir nesta quarta-feira 3, se mantém a blindagem que impede que
governadores se tornem réus em ações penais sem autorização prévia de dois
terços dos deputados de cada Estado. A retomada do julgamento do caso
envolvendo o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), deve abrir
precedente para os outros oito mandatários regionais citados na Lava Jato cujos
processos estão na esfera do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Se a autonomia legislativa
prevalecer, ao menos Luiz Fernando Pezão (PMDB), do Rio; Marcelo Miranda
(PMDB), do Tocantins; e Flávio Dino (PCdoB); correm risco.
Ajuizada pelo DEM, a ação discute
a necessidade de aval da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para
instauração pelo STJ de queixa crime apresentada pelo Ministério Público
Federal (MPF) contra Pimentel pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva,
na Operação Acrônimo - a Constituição mineira não prevê essa condição,
diferentemente do que ocorre nos outros Estados.
O petista defende que seu caso
seja submetido ao plenário da Assembleia mineira, onde tem maioria. Já os
partidos de oposição como o DEM, rechaçam esse tese. Até agora, cinco ministros
votaram pelo conhecimento da ação e outros quatro se posicionaram contrários.
Iniciado ano passado, o julgamento foi suspenso pela última vez em 2 de março.
Se a decisão final afastar a necessidade de autorização legislativa, Pimentel
pode ser suspenso de suas atividades.
Para o professor e coordenador do
Supremo em Pauta da FGV Direito SP, Rubens Glezer, a tendência é de que os
ministros decidam pela autonomia legislativa dos Estados. "Essa decisão
tem tudo para virar referência e provocar um efeito cascata. Caso isso se
confirme realmente, caberá aos deputados decidir, em caso de denúncia do
Ministério Público, se o STJ deve ou não tornar seus respectivos governadores
réus."
Esse resultado é de interesse dos
nove governadores listados pelo ministro Edson Fachin, especialmente aqueles
que já têm o apoio de dois terços dos deputados. É o caso dos governadores de
São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); do Paraná, Beto Richa (PSDB); de Santa
Catarina, Raimundo Colombo (PSD); de Goiás, Marconi Perillo; e do Espírito
Santo, Paulo Hartung (PMDB).
Pezão, Miranda e Dino também têm
maioria, mas não alcançam atualmente os 66% de apoio necessário, segundo
levantamento feito pela reportagem. Miranda é o que corre mais risco, pois tem
em sua base aliada só 13 dos 24 deputados tocantinenses.
O peemedebista já responde a um
processo de impeachment apresentado pelos sindicatos de servidores públicos e a
um pedido de cassação de seu diploma pela Procuradoria Regional Eleitoral do
Estado, que acusa o governador de abuso de poder político e econômico na
campanha de 2014. "A única maneira de ele provar que é realmente inocente,
como diz, é se for feita uma apuração no STJ. Não adianta se defender na
Assembleia, nós não temos condições de apurar isso", afirmou o deputado da
oposição Jaime Café (DEM).
Líder do governo de Flávio Dino,
o deputado Rogério Cafeteira (PSB), disse que a Assembleia maranhense aguardará
o desenrolar dos fatos. Segundo ele, é de interesse de Dino que tudo seja
esclarecido. "Aposto minhas fichas no arquivamento."
Já Pezão depende cada vez mais da
influência de seu principal aliado, o presidente da Assembleia Legislativa,
Jorge Picciani (PMDB), para ter maioria.
Vantagem
Se o STF decidir pela necessidade
de autorização legislativa, Colombo e Alckmin deverão obter as votações mais
expressivas. O governador de Santa Catarina tem o apoio de 85% da Assembleia
local e o de São Paulo, de 81% dos parlamentares.
O deputado Alencar Santana Braga,
líder do PT na Assembleia paulista, diz que, dependendo da decisão do STF, o
partido vai pressionar pela abertura do inquérito no STJ e também de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). "É o que temos de fazer cobrar
dos demais parlamentares a autorização para que se investigue o governador.
Sabemos que a base dele é grande, mas os indícios de irregularidades também,
seja em obras do metrô ou da Sabesp. Quem for contra, vai passar atestado de
omissão."
No Paraná, o governador Beto
Richa (PSDB) mantém influência sobre grande parte dos deputados. Líder do
governo na Assembleia Luiz Carlos Romanelli (PSB) diz que a base deverá barrar
tal pedido, caso necessário. "A nossa estratégia é esclarecer aos
deputados da conduta reta e íntegra que o governador teve em sua vida
pública."
Quarta-feira, 3 de Maio, 2017 as 14hs00
Nenhum comentário:
Postar um comentário