O
embate entre o BNDES e o governo federal está prestes a evoluir para uma
disputa oficial. O motivo do confronto é o pedido da equipe econômica para que
o banco devolva ao Tesouro, entre 2017 e 2018, R$ 180 bilhões que foram
repassados à instituição financeira. O comando do BNDES é contra a devolução e
ameaça apelar ao Tribunal de Contas da União (TCU) para não ter de desembolsar
a quantia.
Antes
disso, como última cartada, vai apresentar ao governo documentos que indicam
que a antecipação do pagamento dos empréstimos pode trazer risco aos interesses
do banco. "Nossa prioridade é governança, prudência e cuidados com
recursos que são do público", disse Paulo Rabello de Castro, presidente do
BNDES.
A
União --única acionista do banco-- pediu a devolução de R$ 50 bilhões este ano
e mais R$ 130 bilhões em 2018. Em 2015 e 2016, o BNDES já tinha devolvido R$
130 bilhões.
O
governo conta com esse dinheiro para reduzir a dívida pública e cumprir a
chamada "regra de ouro", que impede a emissão de novas dívidas para
financiar despesas correntes.
"Tenho
dificuldade de entender como o banco pode antecipar pagamento de empréstimo
cujo esforço de antecipação já foi feito, da ordem de R$ 130 bilhões, e que foi
sujeito a questionamentos do TCU", disse Rabello.
Segundo
ele, o tribunal já quis saber se a devolução afetaria as condições de
equilíbrio econômico e financeiro do próprio banco. Ele rebate os argumentos de
que o BNDES conta hoje com quase R$ 200 bilhões em caixa e por isso poderia
devolver o dinheiro.
"Essa
situação de folga tem de ser tratada com muito cuidado. 'Ah, tem aí uma grana,
então passa essa grana aí', isso não é uma conversa séria, nem é a conversa que
o governo está tendo com o banco."
O
diretor de Crédito, Planejamento e Pesquisa do BNDES, Carlos Da Costa, ressalta
que o valor de R$ 180 bilhões é "indicativo" e que, caso a missão
institucional do banco seja ameaçada, essa cifra tem de ser revista.
"Existem vários mecanismos de governança do banco, do TCU e mecanismos
políticos também, saudáveis, que limitam o que conseguimos devolver."
Fontes
do TCU avaliam que o banco pode de fato acionar o tribunal, mas que é
"difícil dizer no que resultaria esse movimento". A corte de contas
já tem dois processos que analisam a regularidade das emissões diretas do
Tesouro ao banco e se o governo cumpriu a determinação de usar os R$ 100
bilhões devolvidos pelo BNDES exclusivamente para abater dívida bruta.
O
ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, diz que não vê resistência do BNDES e
que o banco está propondo soluções. "Temos buscado alternativas de maneira
muito construtiva."
Entre
economistas, as opiniões se dividem. Para José Roberto Afonso, pesquisador da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), o BNDES mais uma vez é usado para maquiar as
contas públicas. "É um erro exigir que o banco antecipe pagamentos para
inflar o Orçamento."
Já
o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall defende que a medida é importante para
reduzir a dívida bruta do governo num momento de ociosidade do BNDES e queda
dos desembolsos.
Segunda-feira
18 de setembro, 2017 ás 00hs05
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