Em
um ano, os bancos públicos viram seus índices de inadimplência - atrasos
superiores a 90 dias nos pagamentos de financiamentos - saltar de 2,8% para
3,5%. Isso significa que, nesse período, os calotes nesses bancos - nos quais
se incluem o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES - cresceram em R$ 10,4 bilhões.
O
movimento é oposto ao registrado pelos bancos privados. Entre julho do ano
passado e julho deste ano, essas instituições viram a inadimplência em sua
carteira de crédito registrar uma queda de R$ 6,1 bilhões. Com isso, o índice
de calotes nos bancos privados nacionais caiu de 5,1% para 4,6% -
historicamente, essas instituições sempre tiveram inadimplência maior. Entre os
bancos privados estrangeiros, esse indicador passou de 3,4% para 3,1% no mesmo
período.
Para
especialistas, a piora na situação dos bancos públicos tem como causa
principalmente a exposição a grandes empresas e setores que sucumbiram à crise
ou ao envolvimento na Operação Lava Jato.
Um
dos casos mais simbólicos é o de um antigo “campeão nacional”: a operadora de
telefonia Oi. A empresa de telecomunicações, criada com a fusão da Telemar e da
Brasil Telecom com uma forte ajuda do governo Lula, tomou mais de R$ 10 bilhões
em crédito de bancos estatais. Com a recuperação judicial pedida em junho do
ano passado, essa dívida deixou de ser paga há um ano e as partes ainda
negociam um acordo com a operadora.
Entre
executivos do setor bancário, os empréstimos concedidos à Oi são citados como
um exemplo de que as instituições públicas podem ter sido demasiadamente
otimistas e talvez até minimizado riscos na operação. Essa percepção acontece
especialmente porque instituições privadas também emprestaram à operadora. O
balanço dos concorrentes, porém, não revela problema tão expressivo, porque as
operações tiveram formatação que protegeu esses credores.
Um
exemplo são os empréstimos realizados por bancos por meio da compra de títulos
de dívida - as debêntures. Segundo um executivo do setor, bancos privados que
optaram por esse caminho emprestaram igualmente à operadora de telefonia. A
diferença é que o prejuízo não aparece no balanço porque esse título continua
com valor de mercado - ainda que menor -, e não pode ser classificada como
“default” ou calote. Procurada, a Oi não se pronunciou sobre o assunto.
Exposição
Também
há problemas setoriais, como o da construção civil. Nesse segmento, algumas
empreiteiras e fornecedores foram duramente prejudicados por envolvimento em
esquemas descobertos pela Operação Lava Jato e deixaram de pagar seus
empréstimos. Nesses casos, o reflexo é grande principalmente no BNDES, o
principal financiador do setor.
Para
piorar, há empresas que simplesmente não conseguiram aguentar a recessão
persistente. Operadoras de rodovias e aeroportos estão entre os segmentos que
tomaram crédito com a expectativa de movimento muito maior que o visto
atualmente. Com a frustração dessas estimativas, o fluxo de caixa é
insuficiente para quitar dívidas feitas no auge do otimismo com o Brasil. O
resultado é conhecido: aeroportos que atrasam o pagamento das licenças,
rodovias devolvidas ao governo e empresas que atrasam pagamento a fornecedores,
incluindo os bancos. (AE)
Segunda-feira
18 de setembro, 2017 ás 10hs30
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