Em
momentos de intensa crise como a que vivemos hoje no Brasil, há uma tendência
de se buscar soluções fáceis para problemas complexos. É o que se depreende da
tese levantada por alguns setores da base governista e até da oposição de
antecipação das eleições gerais, encurtando o mandato de Dilma Rousseff numa
tentativa de superar as graves dificuldades atuais e virar uma triste página da
história brasileira. Trata-se, evidentemente, de um equívoco que só desvia o
foco do que realmente pode ser feito do ponto de vista político e
constitucional: o impeachment da presidente da República.
Naturalmente,
a ideia de que sejam realizadas novas eleições é até muito simpática à primeira
vista. Ninguém em sã consciência pode ser contrário à participação da cidadania
para escolher os destinos do Brasil e eventualmente corrigir rumos. Ocorre que
a proposta de antecipação do calendário atenta contra uma cláusula pétrea da
Constituição Federal, a periodicidade dos mandatos. Eles podem ser encurtados,
mas desde que isso seja feito pelas vias constitucionais. Qualquer medida que
seja posta em prática ao arrepio de nossa Carta Magna significaria, aí sim, um
perigoso golpe contra a democracia e as instituições republicanas.
O
Artigo 81 da Constituição é claro ao determinar a convocação de novas eleições
diretas em 90 dias caso a presidente e o vice-presidente da República deixem
suas respectivas funções nos dois primeiros anos de mandato. Caso isso aconteça
nos dois anos finais, o Congresso Nacional é encarregado de realizar uma
eleição indireta. Entretanto, renúncia é uma questão de foro íntimo e não pode
ser objeto de uma campanha levada a cabo pelos adversários políticos do governo
de turno. O ato de renunciar ao mandato é unilateral. As oposições não podem
ficar paralisadas à espera de um gesto que, além de cada vez mais improvável,
não está sob nossa alçada.
Uma
outra hipótese que poderia nos levar a novas eleições, desta vez seguindo o
trâmite constitucional, seria a cassação da chapa formada por Dilma e pelo
vice-presidente Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em
decorrência do financiamento ilegal por meio do dinheiro sujo do petrolão – que
abasteceu os cofres da campanha petista, como acaba de revelar em delação
premiada o ex-presidente de uma das empreiteiras envolvidas no esquema. Mas
essa definição da Corte só deve acontecer dentro de alguns meses ou, mais
provavelmente, apenas no próximo ano, quando o julgamento estará finalmente
concluído. Infelizmente, diante da seriedade da crise que atinge todos os
brasileiros, não podemos esperar tanto tempo nem deixar a nação sangrando ainda
mais até lá.
Às
forças de oposição, cabe lutar democraticamente para resolver o impasse
político que aflige o Brasil observando estritamente os dispositivos
constitucionais. A crise, gerada e agravada pelos governos do PT nos últimos 13
anos, hoje atende pelo nome de Dilma Rousseff. E sua resolução, devidamente
amparada pela Constituição e regulamentada pela Lei 1.079/1950, é o impeachment
a ser votado pela Câmara dos Deputados e, em seguida, pelo Senado Federal.
Só
superaremos este momento delicado da vida nacional pela ação das forças
políticas comprometidas com a democracia e o futuro do país. Não é o Poder
Judiciário o responsável por debelar a crise política e de governabilidade que
se instalou no Brasil, como podem fazer crer algumas recentes decisões da
Suprema Corte – que, de forma preocupante, vem interferindo indevidamente nas
prerrogativas de outro Poder, o Legislativo. Cumpre a nós, parlamentares, e à
sociedade brasileira a construção de um caminho alternativo ao descalabro Lulopetista.
Antecipar
eleições ao sabor de conveniências político-eleitorais abriria um precedente
perigoso em uma quadra tumultuada como a que o Brasil enfrenta. Sem soluções
diversionistas ou tentativas canhestras de desviar a atenção da opinião
pública, a classe política tem a obrigação moral de atender ao clamor da
esmagadora maioria da sociedade. O país exige o impeachment e não aguenta mais
esperar. A saída é pela Constituição.
*****Roberto Freire é
deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS
Sexta-feira,
08 de abril, 2016
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