Com
o governo em acelerada decomposição e a ideia do impeachment avançando, seria
de estranhar que o vice-presidente Michel Temer, que deve assumir as funções de
presidente caso a titular seja impedida, não tivesse uma equipe forte e uma
palavra já pensada para um discurso à Nação, além de um plano formulado para
gerir a crise econômica, política e moral do Brasil. Como também a presidente
Dilma Rousseff tem, muito mais que seu vice, um plano de medidas que acha lhe
irão possibilitar a volta por cima na política, a recomposição de sua base
parlamentar, as novas equipes que assumirão especialmente para compor o governo
de duplo comando Dilma 2 e Lula 3, e medidas, muitas, já formuladas e prontas
para adoção imediata.
É
uma disputa eleitoral simples, em que um candidato precisa de 342 votos de
deputados federais para ser eleito, e o outro precisa que não se chegue a esses
342 votos para ficar no cargo. Michel Temer, se foi intencional ou não o
vazamento de seu rascunho de discurso caso vencesse a disputa (é difícil
acreditar que um lance desses tenha saído dos ladinos do PMDB por acaso) não
fez nada diferente do vice-presidente Itamar Franco, que assumiu o cargo
titular com o impeachment de Fernando Collor.
A
sociedade quer segurança, os apoiadores também querem, todos querem saber se
haverá um líder capaz de tentar fazer algo imediatamente, e é isso que Temer
tentou mostrar com suas duas cartas aos brasileiros, uma escrita e outra oral.
Dilma também tem mostrado, especialmente por intermédio do ministroJaques
Wagner, uma vez que ela não dá entrevista, não formula programas, não responde
a denúncias e críticas, apenas não as aceita e gasta suas energias em discursos
políticos vazios de ideias e cheios de slogans de palanque, que sua equipe está
trabalhando em medidas caso vença a votação do domingo próximo. Seu discurso de
vitória, é claro, está pronto, e os ministros têm salpicado algumas ideias
sobre a peça em pronunciamentos recentes.
A
diferença de Itamar Franco é que nos idos de 1992, do impeachment do Collor, a
tecnologia do celular não existia, e o que o Temer gravou agora ele mandou
falar com cada um. O recado era o meio. Evidentemente para dar garantias de que
não faria o que a propaganda negativa dizia que ia fazer (como hoje no caso dos
programas sociais) e para mostrar que tinha equipe forte e ação de governo já
preparada.
Não
há mistério no cenário de domingo, e as agonias do momento se devem à
propaganda eleitoral negativa. Mas também definido não está.
A
incerteza sobre o resultado tem muitas explicações, e uma delas é a própria
composição da Câmara dos Deputados. Quem se vendeu, se é que está havendo esse
tipo de barganha, já se vendeu, o comércio foi feito. Quanto à votação, várias
questões podem definir seu rumo, uma delas diz respeito a uma influência que
passou a ser notada esta semana: a das famílias.
Rosângela
Bittar
Quarta-feira,
13 de abril, 2016
OS DEPUTADOS BRASILEIROS
ACEITAM A LIDERANÇA DO EX-PRESIDENTE LULA E DA PRESIDENTE DILMA?
São
cerca de 250 deputados com menos de 50 anos. Com exceção do PT e do PCdoB, cuja
posição a sociedade entende, por ser óbvia, os parlamentares examinarão se vale
a pena ou não seguir essas lideranças. Alguns estão em primeiro mandato, há um
número grande com dois mandatos apenas, e, segundo levantamentos recentes, uma
maioria com menos de 50 anos e menos de três mandatos.
Mais
suscetíveis, portanto, às pressões da família, dos amigos, do público de
restaurantes e da rua, com uma carreira política pela frente, do que dos
esquemas das eleições municipais ou das ordens partidárias. Muito se falou que
a pesquisa que coloca Lula em primeiro lugar na disputa eleitoral de 2018
sensibilizaria esses políticos pela perspectiva de continuidade de poder, mas
logo se viu discussões, entre novatos, que Lula, presidente, foi colocado numa
lista em confronto com candidatos sem recall de governo. Lula vai ser comparado
com o quê? Se 20% dos parlamentares conhecerem o governo Juscelino, são muitos;
se 10% souberem como foi o de Getúlio, são demais. É um presidente, em ação,
contra uns nomes que não estão em campanha.
Lula,
que não pode ser investigado por um juiz de primeira instância, negocia o apoio
à presidente Dilma, que não tem compromisso com nada. Mas ambos estão no
comando, e podem ficar agora e a partir de 2018.
Portanto,
é uma questão de querer ou não prosseguir sob a liderança desse grupo.
Algo
se mexe esta semana no sentido de abalar posições que se imaginavam
conquistadas para o governo, e pode ser o casamento entre a jovialidade do
grupo que vai votar o impeachment com um certo destemor de mudar os líderes do
processo de recuperação da crise do país. Antecipá-la para agora, e não esperar
2018 até chegar um novo governo para mudar tudo.
A
negociação do apoio a Dilma, conduzida especialmente por Lula, estava, até a
semana passada, dada como eficaz. Houve uma mudança, porém, a certeza evaporou,
e o comportamento do governo tem sido o de perder votos, não de ganhar.
Centrar
a tese de defesa no slogan do golpe, a esta altura do processo constitucional
que se desenrola com acompanhamento atento do Supremo Tribunal Federal, não tem
justificativa. Menos ainda comove o discurso político que tenta atribuir o
impeachment a uma vingança de Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Se foi, ele
não saiu um milímetro do rito por causa desse sentimento. Cunha pode e já foi
acusado de muitos crimes, e deverá pagar por eles no momento de seu devido
processo, mas nenhum relacionado à função de presidente da Câmara e à condução
da denúncia do impeachment. Ele nada está fazendo, também, diferente do que fez
o presidente da Câmara de 1992, Ibsen Pinheiro.
E
ainda se quer fazer crer que o impeachment está muito embolado, o que não é
verdade. Melhor fará o governo se correr para buscar argumentos e defesa
consistentes para recuperar o prejuízo desta semana.
O
impeachment está avançando apesar da propalada tese de que está tudo uma
bagunça. Já se viu que essa é uma ideia da predileção de quem não quer o
impeachment. Voltando à síntese: se os deputados quiserem a liderança de Lula e
da Dilma, não terá impeachment. Se perceberem que é uma roubada, haverá
impeachment.
Rosângela Bittar
Quarta-feira,
13 de abril, 2016
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