Uma
das provas do fracasso dos governos de esquerda no Brasil é o baixo nível do
debate político neste grave momento de nossa história. Nunca se discutiu tanto
a política sem debater políticas; tudo se resume à dicotomia “tira Dilma” ou “é
golpe”.
O
modelo político-econômico-social ruiu como um Muro de Berlim nacional,
enterrando as esquerdas em seus escombros, mas a peleja tem ficado entre Dilma
até 2018 e Temer a partir de 2016.
Não
se debate qual seria um novo modelo social-econômico-político para conduzir o
Brasil ao longo deste século. O atual modelo não foi capaz de construir uma
economia sólida, sustentável, inovadora e produtiva, e ainda desorganizou as
finanças públicas e provocou recessão na economia atrasada; não foi capaz de
emancipar os pobres assistidos por bolsas e cotas; não deu salto na educação e
promoveu dramático caos na saúde; sobretudo, incentivou um vergonhoso quadro de
corrupção, conivência, oportunismo, aparelhamento do Estado e desmoralização na
maneira de fazer política.
O
país está ficando para trás, se “descivilizando” por violência generalizada,
ineficiência sistêmica, incapacidade de gestão e de inovação, saúde degradada,
educação atrasada e desigual, transporte urbano caótico, cidades monstrópoles,
persistência da pobreza, concentração de renda, política corrupta, povo
dependente, tragédias ambientais e sanitárias. Todos os indicadores são de um
país em decadência, com raras ilhas de excelência.
Mas
o debate fica prisioneiro da alternativa entre interromper o mandato de um
governo incompetente e irresponsável, eleito por estelionato político, tendo
cometido possíveis crimes fiscais, e escolher um novo presidente do mesmo
grupo, eleito na mesma chapa e também sujeito a suspeitas. Não se discute qual
a melhor alternativa para o Brasil sair da crise imediata a que foi levado
pelos desajustes irresponsáveis e eleitoreiros do atual governo, nem qual
Brasil queremos e podemos construir, com uma economia eficiente, inovadora,
equilibrada, distributiva de renda e sustentável ecologicamente; com a
população educada, participativa, levando à justiça social, à produtividade
elevada e à economia eficiente; com sistema político-eleitoral ético e
democrático.
Não
se debate um pacto pelo emprego com equilíbrio das contas públicas e pela
eficiência da gestão estatal; não se discute como fazer, quanto custa, em
quanto tempo e que setores pagarão pelas reformas de que o país precisa. As
discussões despolitizadas, entre torcidas a favor ou contra, como em um jogo de
futebol, não debatem, por exemplo, como fazer com que a escola do filho do mais
pobre brasileiro tenha a mesma elevada qualidade que as boas escolas do filho
do brasileiro mais rico do país.
O
debate se limita a manter a mesma estrutura social, apenas trocando uma
presidente pelo vice que ela escolheu duas vezes. Não se percebe que é preciso
fazer o impeachment de todo o modelo que a esquerda manteve e degradou.
Cristovam
Buarque é senador do PPS-DF.
Domingo,
24 de abril, 2016
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