Uma
das leis de ferro da política é aquela que assevera que governos que não tenham
sustentação acabam caindo. A queda pode materializar-se de diversos modos. Há
desde os golpes de Estado clássicos, com tanques nas ruas e tudo, até
insurreições populares, como vimos na Argentina em 2001, passando por acordões
de elites, assassinatos políticos e mesmo soluções institucionais, como o
impeachment ou a destituição judicial.
No
limite, o governo pode até cair sem cair, que é o que ocorre quando uma
administração já não tem condição nenhuma de gerir o país, mas a sociedade não
encontra uma maneira de resolver o impasse, de modo que as forças da inércia
prevalecem. É claro que um governo que não governa deixa de ser um governo.
O
cardápio só traz pratos indigestos. A dupla renúncia (de Dilma e Temer), como
quer a Folha, seria dos menos intragáveis, mas me parece uma possibilidade
extremamente remota. Exigiria um nível de desprendimento que não vejo nos
personagens envolvidos. Em seguida, numa escala que combina palatabilidade com
probabilidade, vem o impeachment.
Ele
tem a vantagem de ser uma saída prevista pela Constituição e muito mais
civilizada que o assassinato, mas com a desvantagem de entregar o poder ao
PMDB, um partido que está tão metido quanto o PT nos malfeitos que deflagraram
a crise. O ponto é que, a essa altura, a situação econômica é tão ruim que
mesmo uma mudança incerta parece preferível à certeza de manter o "statu
quo".
Meio
a contragosto –prefiro sempre ver mandatos chegarem à sua conclusão–, começo a
achar que o impeachment é uma solução aceitável. Dilma teve a chance de fazer
um bom governo –ela própria disse ter recebido uma herança bendita e teve apoio
de todos os setores–, mas fracassou. Deve assumir seus erros. Seu direito de
concluir o mandato não é maior que o direito de milhões de brasileiros a um
governo funcional.
Hélio Schwartsman
Quarta-feira,
06 de abril, 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário