O
apoio velado do Palácio do Planalto ao deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na
eleição para a presidência da Câmara abriu uma disputa por cargos que ameaça
contaminar a coalizão de partidos instalados na administração Michel Temer.
Embora o peemedebista tenha dito que se manterá neutro no processo, deputados
relatam que emissários de Maia ofereceram vagas já ocupadas por aliados do
governo.
A
barganha de cargos ocorre justamente no momento em que Temer cogita fazer uma
minirreforma ministerial para reacomodar as forças governistas, algo que aguça
ainda mais o apetite dos aliados. Parte das ofertas foi feita à revelia do
governo. A eleição da Mesa Diretora será no dia 2 de fevereiro.
Entre
os cargos “disponíveis” estão diretorias e superintendências regionais da
Federação Nacional de Saúde (Funasa), vagas na Gaspetro e diretorias na Empresa
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Os postos teriam sido
oferecidos por aliados de Maia a integrantes do Centrão – grupo formado por 13
legendas, entre elas PP, PR, PSD e PTB. Entre os procurados estariam Eduardo da
Fonte (PP-PE), Waldir Maranhão (PP-MA) e parlamentares indecisos de partidos
nanicos.
A
liderança do governo na Câmara foi outra função que entrou no mapa de cargos. O
nome mais cotado é o do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o que selaria o
apoio da bancada do PP. Abandonado pelo PSD na disputa pela presidência da
Câmara, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF) também pode assumir a liderança, mas
apenas se desistir para apoiar Maia.
A
ofensiva irritou deputados do Centrão, que recorreram a Temer para saber se o
Planalto chancela a iniciativa.
“Rodrigo
Maia está vendendo lote na Lua de frente para o mar. Está usando indevidamente
o cargo para oferecer vantagens, o que é deplorável. As promessas dele não têm
aval do Planalto. O presidente Temer me garantiu isso”, disse à reportagem o
deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que lançará sua candidatura ao comando da
Casa oficialmente na terça-feira.
“Pergunte
ao Jovair quantos cargos ele tem no governo”, rebateu Maia. O deputado do DEM
ainda não assumiu oficialmente sua candidatura e deve fazer o anúncio mais
perto do prazo final.
Plano A
Apesar
da neutralidade oficial, o Planalto avalia que a candidatura de Maia é a mais
consistente e que o Centrão perdeu força após a cassação e prisão de Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), que foi o articulador do grupo. Na contabilidade governista, a
frente que já chegou a aglutinar mais de 200 parlamentares tem hoje pouco mais
de 90 votos.
Apoiado
pelo PSDB e demais partidos da antiga oposição, PPS, DEM, PV e parte do PSB,
Maia seria menos vulnerável à pressões fisiológicas em votações importantes
como as reformas da Previdência e trabalhista em tramitação no Congresso.
Mesmo
se a candidatura de Maia for impedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o
governo não pretende dar aval a Rosso e Jovair – ex-aliados de Cunha. Maia cumpre
desde o ano passado mandato-tampão após a saída do peemedebista. Parlamentares
questionam a legalidade de sua recondução ao cargo porque a presidência da Casa
só pode ser ocupada uma vez na mesma legislatura. Pareceres jurídicos serão
usados para argumentar que a regra não vale para o caso de Maia.
Outro lado
O
atual presidente da Câmara negou que esteja oferecendo cargos no governo em
troca de apoio e disse que se foram feitas ofertas, elas não têm relação com a
eleição para o comando da Casa.
“Se
estou vendendo terreno na Lua, ele (Jovair) não precisa se preocupar com isso.
Eu efetivamente não nomeei ninguém no governo. A eleição da Câmara deve tratar
dos assuntos que interessam ao Brasil”, afirmou Maia à reportagem.
“Essa
questão de cargos não existe. Se o governo assumiu compromissos, foram
compromissos do governo. Não há relação com a eleição da Câmara”, disse o
presidente da Câmara.
Procurado
pelo jornal, o deputado Eduardo da Fonte também negou que esteja negociando
cargos em troca do apoio a Maia. “Não fiz nenhuma indicação e não tenho
pretensão de fazer”, afirmou. Já o deputado Waldir Maranhão não foi localizado
pela reportagem. (AE)
Segunda-feira,
09 de Janeiro de 2017
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