Relatório
do Ministério Público Federal (MPF) na Operação Zelotes diz que o ministro
interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, participou de tratativas que
resultaram em favorecimento à Gerdau na tramitação de uma medida provisória no
Congresso.
O
documento sustenta que o ministro conversou com o empresário Jorge Gerdau, dono
da siderúrgica, sobre regras tributárias de interesse da empresa. Para os
investigadores, há indícios de que, graças a negociações com Dyogo e
congressistas, o próprio Gerdau redigiu emendas que tramitaram na Câmara e no
Senado.
As
afirmações do MPF constam de inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal
para apurar se houve crime de corrupção ativa, por parte da empresa, e passiva,
por parte de agentes públicos na aprovação da MP 627. Editada pelo governo em
2013, ela alterou regras da tributação de lucros de empresas brasileiras com
negócios no exterior e resolveu pendências para o pagamento de dívidas com o
Fisco.
A
investigação foi aberta por causa de suspeitas de que, em troca de doações
eleitorais, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator-revisor da medida, e os
deputados Alfredo Kaefer (PSL-PR) e Jorge Corte Real (PTB-PE) trabalharam para
incluir vantagens à Gerdau no texto original, quando ele foi convertido em lei,
em 2014. Na época, Dyogo era secretário executivo do Ministério da Fazenda.
O
relatório da Zelotes analisa o teor de comunicações trocadas entre as
autoridades envolvidas na tramitação da MP. O documento mostra que o ministro
foi "provocado" por Marcos Antônio Biondo, diretor jurídico da
Gerdau, em e-mail enviado em 14 de fevereiro de 2014. Na mensagem, o diretor
indica as emendas de interesse da empresa. Quatro dias depois, Gerdau e o então
secretário executivo se reuniram em Brasília para tratar das questões tributárias.
O
próprio Gerdau escreveu uma carta a Dyogo. "Para atender nossos
interesses, apresentamos as emendas 183 (deputado Jorge Corte Real), 453 e 454
(deputado Alfredo Kaefer) à MP 627", escreveu. Os investigadores registram
que, após a reunião, Jucá mudou o texto da MP, incluindo trecho requisitado
pela siderúrgica.
"Por
tratativas diretas entre parlamentar, funcionário do segundo escalão do governo
(Dyogo) e Jorge Gerdau, a redação de emendas foi literalmente feita pelo
empresário", escreve o procurador Hebert Reis Mesquita em relatório
enviado à Justiça em maio, no qual pede a abertura da investigação.
Dyogo
substituiu Jucá no Planejamento em maio, após a divulgação de áudios nos quais
o peemedebista, supostamente, tramava contra a Lava Jato. O inquérito, que
corre em sigilo, foi aberto em 18 de novembro, a pedido do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot. Na semana passada, com autorização do ministro
Ricardo Lewandowski, relator do caso no STF, Dyogo prestou depoimento e negou
ter dado apoio a Gerdau. Em 2014, a Gerdau doou R$ 27,3 milhões a PMDB, PSDB,
PT e PSB.
Respostas
O
ministro Dyogo Oliveira negou que tenha feito qualquer gestão para influenciar
o Congresso a decidir em favor da Gerdau. Ele afirmou que nunca fez pedido para
que o senador Jucá ou qualquer outro congressista atendesse a pleitos da
siderúrgica.
Dyogo
disse que, na função de representante técnico do governo, recebeu Jorge Gerdau
em agenda que foi tornada pública, assim como ocorreu com outros empresários
com interesses na Medida Provisória 627/2013. "Estava cumprindo minha
missão. Se a gente for condenar as pessoas porque trabalham, a gente vai ficar
num País muito complicado", afirmou.
O
ministro disse que, como secretário executivo do Ministério da Fazenda, apenas
discutiu o projeto, em linhas gerais, com o então deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que era o relator do texto. "Tive reuniões com ele (Cunha) para
tratar do relatório (final da MP)."
Dyogo
afirmou ter prestado depoimento à Zelotes na condição de testemunha. De acordo
com ele, a MP foi originalmente gestada por um grupo de trabalho que tinha
integrantes do governo e de 20 a 30 representantes do empresariado. Segundo
Dyogo, o texto visava resolver problemas antigos na tributação dos lucros.
Alfredo
Kaefer afirmou estar sereno e com a consciência tranquila, uma vez que não
produziu "nenhuma emenda a pedido da Gerdau". Segundo ele, seu
gabinete apresentou mais de 30 emendas para a MP 627 por solicitação de
escritórios especializados em tributação e da Confederação Nacional da
Indústria (CNI). Para o congressista, seu nome só foi envolvido porque a
Polícia Federal encontrou e-mail no qual o empresário André Gerdau, filho de
Jorge Gerdau, recomenda a Jucá a aprovação de duas emendas suas. "Não
conheço o André Gerdau e não conseguiria nem reconhecê-lo na rua."
Procurados,
Jucá, relator-revisor da MP, e o deputado Jorge Corte Real (PTB-PE) não foram
localizados.
A
Gerdau informou, em nota, que participou "de forma legítima e em
conformidade com a legislação brasileira, de discussões sobre a bitributação de
lucros provenientes do exterior, lideradas por entidades de classe e com outras
empresas de atuação internacional". E ressaltou que, desde março de 2015,
quando seu nome foi veiculado como parte da investigação da Zelotes, "vem
prestando esclarecimentos públicos por meio de comunicados à imprensa e ao
mercado de capitais, bem como em reuniões com seus colaboradores internos,
clientes, analistas, jornalistas, acionistas, investidores, bancos,
fornecedores, autoridades públicas e parlamentares". (AE)
Domingo,
15 de Janeiro de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário