O
apoio de chefes tribais foi importante para o sucesso eleitoral. Mas foram
outros caciques – os do mundo político – que influenciaram a migração de Gomes
por seis diferentes partidos nos últimos dez anos.
Não
se trata de um caso isolado. A fidelidade a um único partido não é uma
característica da imensa maioria dos prefeitos que tomará posse hoje. Análise
do Estadão Dados revela que dois em cada três dos eleitos já trocaram de
legenda ao menos uma vez em sua carreira política. Os números mostram ainda
que, depois do primeiro ato de infidelidade, uma parcela substancial reincide
na prática. Mais de um quarto dos prefeitos eleitos já passaram por três
partidos ou mais.
O
novo prefeito de Comodoro é um dos líderes no ranking nacional do troca-troca.
Empatados com ele, com filiações a seis diferentes legendas, estão os novos
governantes de Caratinga (MG) e Rio Largo (AL), respectivamente Welington
Moreira de Oliveira e Gilberto Gonçalves da Silva.
Para
o cientista político Vitor Oliveira, é o pragmatismo que orienta as trocas de
partido dos prefeitos, principalmente nos municípios menores. As filiações,
neste contexto, fariam parte de acordos para maximizar as chances de vitória
nas urnas e, em um segundo momento, de obtenção de verbas para governar.
Jefferson
Gomes é um exemplo típico. Segundo seu relato, a entrada na política se deu por
convite de um deputado estadual interessado em ampliar suas bases na região.
Daí resultou a primeira filiação ao PPS, em 2006.
Já
no ano seguinte, porém, o PPS ficou sem nenhum deputado na Assembleia
Legislativa. Gomes seguiu então para o PR e o PRB, em 2007 e 2008. Em 2011, há
registro de três filiações, de novo ao PPS, ao PT e ao PR – as duas últimas, em
um intervalo de apenas quatro dias. Gomes alega que sua filiação ao PT se deu à
sua revelia, com documentos falsos. “Em 2013 veio um convite de um deputado do
PROS”, disse ele, então vereador. “Fiquei muito feliz, com total liberdade para
trabalhar.” A felicidade, porém, foi passageira: em março deste ano, Gomes aderiu
ao DEM, partido pelo qual foi eleito prefeito. (AE)
Domingo,
1º de Janeiro de 2017
AEROPORTO DE GOIÂNIA COM
PROPINA FOI SUPERFATURADO EM R$ 211 MILHÕES
Uma
das obras nas quais a Operação Lava Jato identificou pagamento de propinas pela
Odebrecht, a construção do novo aeroporto de Goiânia, iniciada em 2005, foi
superfaturada em R$ 211,6 milhões. O prejuízo foi calculado pelo Tribunal de
Contas da União (TCU) e é considerado por auditores da corte um emblema da sangria
causada pelo esquema de corrupção do qual a empreiteira se beneficiou. Ao todo,
o contrato e os aditivos fiscalizados consumiram R$ 564 milhões em recursos
públicos.
Nos
próximos meses, o tribunal terá de auditar, com base em novos dados da investigação,
dezenas de outros projetos negociados pela Odebrecht em troca de suborno. O
pente-fino nos empreendimentos citados na Lava Jato, a cargo de um grupo
especial do TCU, poderá dar a dimensão das perdas reais causadas ao País.
Por
ora a empreiteira e sua subsidiária Braskem, que atua no setor petroquímico,
admitiram a distribuição de R$ 3,4 bilhões em propinas a autoridades e
servidores públicos de 12 países. No Brasil, foi pago R$ 1,1 bilhão, o que
viabilizou R$ 6,3 bilhões em contratos. Os dados constam de relatórios do
Departamento de Justiça dos Estados Unidos, divulgados na semana passada. O
superfaturamento apurado nas obras como um todo, no entanto, ainda é uma
incógnita e permanece em apuração.
As
obras do aeroporto de Goiânia foram tocadas pela Odebrecht em consórcio com a
Via Engenharia. Planilha do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o
“setor de propinas” da empreiteira, indicou o pagamento de suborno a dois
agentes públicos da Infraero, identificados pelos codinomes “Americano” e “Americano
Velho”. O documento, apreendido na Lava Jato, atribui os valores ao contrato do
aeroporto.
Em
2006, ano seguinte ao início do empreendimento, o TCU já havia apontado
superfaturamento de R$ 47 milhões nos contratos. O valor era 80% superior ao que
os serviços realmente custavam. Tanto os preços quanto os quantitativos do
contrato estavam superdimensionados. Atualizada a 2013, época dos aditivos
assinados para complementar a construção do terminal, a quantia chega a R$ 104
milhões.
O
TCU apontou ainda prejuízos de R$ 107,6 milhões em três aditivos, que estavam
inflados em até 38%, totalizando os R$ 211,6 milhões de superfaturamento. Em
decisão tomada em outubro, a corte abriu uma tomada de contas especial para
identificar os responsáveis pelos prejuízos e cobrar o ressarcimento.
Procurada
pelo Estado, a Odebrecht informou que não se manifesta sobre o tema, mas
“reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça”. “A empresa está
implantando as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparência
e integridade”, acrescentou.
Em
nota, referindo-se à Odebrecht, a Via Engenharia alegou desconhecer as
“circunstâncias das negociações que envolvem diretamente a consorciada
parceira, que, como líder do consórcio, desempenhava o papel de direção,
representação e administração do contrato perante o cliente, com poderes
expressos para concordar com as condições relacionadas com o objeto da
licitação, bem como os desdobramentos nas diferentes relações de seus contratos
com o governo”.
A
Infraero explicou que sua “atual administração já atua ao lado do TCU para a
apuração dos fatos, ainda que não tenha sido notificada pelas autoridades
policiais e judiciárias” da Lava Jato. “Entretanto, cabe ressaltar, a empresa
não comenta assuntos submetidos a investigação policial ou que serão objeto de
exame do poder judiciário. O mesmo vale para manifestações ou pareceres do
TCU”, salientou. (AE)
Domingo,
1º de Janeiro de 2017
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