É
praticamente certo que o Senado receberá o processo de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff. Para que isso aconteça, é necessário apenas haver
maioria simples em duas votações: na Comissão Especial (11 votos a favor) e em
plenário (41). Pelos levantamentos disponíveis, não há dúvida a respeito do
resultado dessas votações: ambas serão favoráveis ao processo contra Dilma.
Renan
Calheiros, presidente do Senado, tem um perfil mais acomodado e menos agressivo
que o da Câmara, Eduardo Cunha. Não convocará sessões extraordinárias para
acelerar o andamento das votações, nem é verossímil que imponha à Casa a
maratona a que a Câmara foi submetida por Cunha. Na hipótese mais realista, a
decisão não sai antes do dia 12 de maio. Assim que o processo for aberto, Dilma
será afastada do cargo.
Como
ela já afirmou repetidas vezes que não renunciará, o Brasil assistirá pela
primeira vez ao julgamento de um presidente da República por “crime de
responsabilidade” no Senado Federal (em 1992, Collor renunciou antes desse
momento). A presidência do julgamento será assumida pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Para todas as suas fases, da
instrução ao julgamento final no plenário, a Constituição prevê um prazo de 180
dias, pelo menos até 12 de novembro, portanto, levando em conta a mesma
hipótese realista.
As
características desse processo tornam seu desfecho uma incógnita. Mas uma
conclusão é certa: o país ficará parado até o fim dele. Até 12 de novembro,
considerando o prazo mais elástico, não saberemos se Dilma poderá voltar ao
poder ou se o vice-presidente Michel Temer governará até o fim do mandato.
Temer
pode assumir com um projeto modernizador, trazer para seu governo um ministério
de notáveis. Pode conquistar uma base enorme de sustentação no Congresso e
apresentar um plano de reformas estruturais espetacular para fazer a economia
deslanchar. Mas nada disso andará enquanto o processo contra Dilma não acabar.
Haverá até 180 dias de angústia.
O
Congresso estará paralisado, e as alianças flutuarão ao sabor do andamento do
impeachment contra Dilma. Pelas regras da Constituição, ela precisa de apenas
28 votos (um terço dos senadores) para se livrar. Levando em conta que já tem
uns 20, a maioria nos partidos de esquerda que não a abandonam, seis meses não
parece um prazo absurdo para somar 28, atraindo os inevitáveis descontentes com
a gestão Temer.
Outra
estratégia para os petistas é tentar protelar o julgamento o máximo possível. A
Constituição estabelece que, se ele não for realizado no prazo determinado, o
processo caduca, e Dilma reassume o cargo. A defesa tem, portanto, todo tipo de
manobra à sua disposição para tentar livrá-la, além de tempo suficiente para
isso. Não é nada desprezível, dadas as características da nossa Constituição e
do regimento do Senado, a probabilidade de que Dilma seja absolvida dos crimes
de responsabilidade que lhe são imputados.
Por:
Helio Gurovitz
Sexta-feira,
22 de abril, 2016
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