Jamais
se viu vexame maior como o oferecido pelo palácio do Planalto – leia-se dona
Dilma e o chamado núcleo duro do ministério – nessa novela de horror do
impeachement da presidente da República. Esforçar-se por salvar o seu mandato é
dever fundamental de Madame, mas constituiu uma vergonha anunciar a reforma do
ministério como chamariz para, quinze minutos depois, garantir que só nomeia
novos ministros depois deles terem votado contra o seu afastamento.
Trata-se
de chantagem explícita feita contra pequenos partidos e até contra o PMDB.
Porque parece digno de Al Capone um deputado encontrar razões para livrar-se da
presidente, mas logo depois mudar de lado, garantindo a permanência dela na
chefia do governo.
Ignora-se
quem fica pior nessa operação de compra e venda, se Dilma ou o deputado que
vendeu seu voto. É a prova de que ninguém confia em ninguém. Mais ainda, de que
nem a presidente nem sua base parlamentar ligam a mínima para a administração
federal. Ministérios vendidos como filés dão bem a tônica de ser o impeachment
uma necessidade. Caso não precisasse de votos para manter seu lugar, ela não
estaria loteando seu governo de forma tão vergonhosa.
A
situação fica pior quando se percebe a sombra da traição como mola mestra dessa
operação ainda pairando sobre a Praça dos Três Poderes: Dilma, ganhando o voto
essencial para continuar presidente, e, depois, esquecendo a nomeação; ou, o
deputado, sendo nomeado ministro e, em seguida, votando pelo afastamento da
presidente.
Como
fica o país, diante dessa barganha que faria a alegria de Hitler e Mussolini?
Trair compromissos é peculiar à prática política, mas deixar o país exposto à
vergonha de não poder acreditar em nada, mais grave ainda.
O
PMDB trocou de dirigente máximo, mandando Michel Temer para o banco e
recrutando Romero Jucá. A estratégia é poupar o vice-presidente de maiores
choques com a presidente, dando-lhe tempo para cuidar da composição de seu
futuro governo. Isso na hipótese de se considerar o impeachment como coisa
certa. O diabo é que certeza não se tem de nada. Pode ser que os partidários do
afastamento venham a precisar de mais um ou dois votos, não na Câmara, ao menos
no Senado.
De
qualquer forma, ficando Dilma ou entrando Temer, nenhum dos dois terá condições
de levar o Brasil até 2018. Serão governos postos em frangalhos, junto com o
pais. Só que a solução alternativa é pior: rasgar a Constituição para
convocação de novas eleições gerais fora do prazo. Em nome do quê ou de quem?
Se impopularidade não é penhor do afastamento de quem foi eleito, como aceitar
que solução seja um governo de união nacional?
Carlos
Chagas
Quinta-feira,
07 de abril, 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário