Não.
Ele nem sabe que eu existo. Mas mexeu com ele, mexeu comigo. E vale o mesmo
para o juiz Sérgio Moro e para a Lava Jato como um todo.
O
trabalho de combate à corrupção desenvolvido por todos os que participaram e
participam da força tarefa tem um valor capaz de garantir nome de rua e
monumento na praça. A Lava Jato, graças ao trabalho de seus procuradores, dos
policiais federais, do juiz Moro e seus sucessores representa o mais
extraordinário salto ético no ambiente judicial, político e nas relações de
poder no Brasil.
Agiram
com plena consciência dos riscos a que se expunham. Sabiam que as condenações,
as prisões, os aplausos que recebiam e recebem da sociedade brasileira fariam
desabar sobre eles iras cósmicas e ciúmes cômicos daqueles a quem falta brio e
brilho. Não se toma dinheiro de organizações criminosas sem pagar por isso. No
submundo do crime, coisas assim acabam em saco plástico na cabeça e
esquartejamento. No grande mundo do crime, as estratégias não são mais brandas:
a vítima vai ser esquartejada por outros modos, jogarão um saco plástico sobre
sua voz, cuidarão de desfazer seus feitos e atacarão o que mais apreço lhe
merece: seu patrimônio moral, sua família e assim por diante. Na ribalta da
comunicação social não faltam gangsteres para executar esse trabalho sujo.
Também
no mundo trevoso das instituições nacionais há quem se deslumbre com argumento
de bandido. Há quem fique indignado quando algum juiz destemido condena
frequentadores dos grandes salões, e mais ainda quando audaciosa ordem de
prisão é expedida.
Faz
sofrer, como brasileiro, a consciência de que heróis nacionais estão sendo
atacados por personagens que entrarão para a história como os pombos da estátua.
Aparecerão nas fotos sujando os homenageados. Como são pequenas essas almas que
se contorcem em sentimentos tão vis quanto inveja e ciúme. Por mais rebuscada
que seja a retórica ela não oculta a expressão das faces.
Incomoda-me,
então, a sensação de que Deltan Dallagnol está ficando ao relento. Isso é
inaceitável. Não, Deltan não é meu amigo, mas mexeu com ele, mexeu comigo.
(Por
Percival Puggina)
Terça-feira,
27 de agosto ás 20:30
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