João Fellet ==
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Joaquim Barbosa, disse nesta quinta-feira (20/12) que a eventual recusa da
Câmara em acatar uma ordem de prisão para os deputados federais condenados no
julgamento do mensalão seria uma afronta à Constituição.
"A
proposição de uma medida dessa natureza, acolher os condenados pela Justiça no
plenário de uma das Casas do Congresso, é uma violação das mais graves à
Constituição brasileira", afirmou Barbosa, durante entrevista coletiva no
STF.
Horas
antes, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), voltou a defender que cabe
ao Legislativo a palavra final sobre a perda dos mandatos dos congressistas.
Maia insinuou que a Câmara poderia abrigar os deputados condenados – João Paulo
Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) – caso o
Supremo decrete a prisão dos três antes de o Congresso analisar o tema.
Para
Barbosa, porém, a posição não tem fundamento legal. "Acho que se trata de
desconhecimento puro do funcionamento das instituições brasileiras."
Nesta
sexta-feira, Barbosa decidirá sobre o pedido do procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, para que os condenados no julgamento sejam presos
imediatamente.
O
presidente do STF se recusou a dizer qual será sua decisão. Posteriormente,
porém, sinalizou que não acatará o pedido ao dar uma declaração sobre Maia.
Barbosa
afirmou que Maia "não será a autoridade do Poder Legislativo que terá a
incumbência de dar cumprimento à decisão do Supremo. Portanto, o que ele diz
hoje não terá nenhuma repercussão no futuro ou no momento adequado de execução
das penas".
A
declaração sugere que a prisão não será decretada ainda neste ano, mas somente
após o trânsito em julgado do caso, quando não houver possibilidade de recursos
- ocasião em que Maia não ocupará mais a Presidência da Câmara, pois seu
mandato acaba em fevereiro.
Segundo
Barbosa, no sistema presidencial com separação de poderes, modelo que vigora no
Brasil, o Supremo exerce um importante papel de "controle e
estabilização".
"A
condenação de um parlamentar corrupto que se vale de seu cargo para enriquecer
indevidamente é um elemento desse sistema de controle."
Nesse
modelo, diz Barbosa, o Supremo tem o dever de se contrapor à "tentação
tirânica da maioria, do grande número". "E a tirania do grande número
se estabelece nos Parlamentos, a tirania massiva, ignorante", afirmou.
Lula
Barbosa
também comentou depoimento recente à Procuradoria-Geral da República feito pelo
empresário Marcos Valério, condenado no julgamento do mensalão. Em setembro,
após ter sido considerado culpado pela corte, Valério acusou o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de ter avalizado os empréstimos fraudulentos que
alimentaram o mensalão, o que Lula nega.
"Caso
o Ministério Público entenda que (o depoimento) tem consistência, determinará a
abertura de um inquérito", diz Barbosa.
Segundo
ele, o Ministério Público tem o dever de investigar denúncias com as feitas por
Valério.
"No
nosso sistema, o Ministério Público não goza da prerrogativa de escolher quais
casos deve levar adiante, ele é regido pelo princípio da obrigatoriedade, tem o
dever de fazê-lo".
Da BBC Brasil em Brasília
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