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- Os três principais colunistas políticos, dos três maiores
jornais brasileiros, concordam num ponto: é preciso investigar a conduta do
ex-presidente Lula. Merval Pereira, do Globo, diz que Lula não é um ser
inimputável, acima das leis, como sugeriu o ex-presidente José Sarney. Dora
Kramer, do Estadão, diz que o inquérito policial contra Lula é inevitável. E
Fernando Rodrigues, da Folha, afirma que não é tarde demais para investigar o
ex-presidente.
Abaixo, alguns dos argumentos de Merval:
Uns mais iguais - MERVAL
PEREIRA
É perigosa para a democracia essa tese de que não se pode
falar de Lula. Qualquer coisa que se diga dele vira uma tentativa golpista de
desmoralizar o metalúrgico que chegou ao poder e ajudou seu povo. As acusações
do operador do mensalão Marcos Valério ao Ministério Público, incriminando o
então presidente nas negociatas do mensalão, são gravíssimas e podem gerar uma
investigação, desde que o denunciante tenha dado um mínimo de substância às
suas declarações (…) O que não é possível é partir do pressuposto de que Lula é
inatingível e está blindado para sempre porque, segundo o presidente do Senado
José Sarney, "é um patrimônio do país, da história do país, por sua vida e
tudo que ele tem feito’! (…) O que se precisa saber é o que Lula tem a dizer
sobre as acusações, e seus apoiadores deveriam ser os primeiros a quererem que
suas explicações sejam claras o suficiente para desmentir o acusador (…) O que
de pior pode acontecer no Brasil é se criar um ambiente em que um líder
político seja inimputável simplesmente porque, para alguns — mesmo que formem a
maioria momentânea — ele seja considerado "um deus’! como já foi definido
por um de seus áulicos.
Dora Kramer,
por usa vez, vê acusações muito bem amarradas por Marcos Valério:
Língua nos
dentes - DORA KRAMER
Ás do volante na ultrapassagem de obstáculos, o ex-presidente
Luiz Inácio da Silva agora está diante de um quase intransponível: a abertura
de inquérito policial para investigar as denúncias feitas por Marcos Valério
Fernandes de Souza à Procuradoria-Geral da República, apontando Lula como ator
principal do mensalão.
Se o operador do esquema disse a verdade ou se mentiu não é
algo que possa ser revolvido com negativas, tentativas de desacreditar o
acusador ou acusações sobre conspirações de natureza política.
Inclusive porque a história está muito mais
"amarrada" do que deixam transparecer o Ministério Público e o
Supremo Tribunal Federal. Roberto Gurgel tomou outro depoimento de Marcos
Valério além daquele revelado ontem pelo Estado.
No curso do julgamento, o STF fez reuniões administrativas
ainda sob a presidência de Carlos Ayres Britto para tratar do assunto.
Ficou acertado o início do processo de negociação da delação
premiada, mas mantido em sigilo para impedir que novos fatos interferissem no
julgamento em curso e que agora está na fase de conclusão.
A depender da qualidade das informações que venha a fornecer,
Marcos Valério terá benefícios nos processos relativos ao mensalão em
tramitação na primeira instância e em novos que venham a ser abertos.
Mas é possível que obtenha do relator Joaquim Barbosa um
regime especial de prisão (cela isolada ou na companhia de preso com curso
superior, acesso facilitado a visitas, direito a livros e televisão) na hora da
definição da execução da pena.
Não por acaso esse assunto foi ventilado há poucos dias no
STF. A forma de cumprimento das sentenças ficará a cargo de Barbosa e não de
juiz de vara de execuções.
Embora Valério não seja visto como testemunha confiável, seu
melhor ou pior destino está atrelado às provas que possa apresentar. Ele mentiu
muito, prometeu demais, entregou quase nada e agora sua única chance de salvar
em parte a pele é falar a verdade.
Por que não falou antes? Primeiro porque o advogado dele era
contra o recurso da delação e, segundo, porque percebeu tarde que a rede de
proteção prometida pelo PT não existia.
Condenado a 40 anos e com a perspectiva de passar o resto da
vida na cadeia devido aos outros processos, a única opção era tentar reduzir os
danos. Como o mensalão propriamente dito já estava desvendado, de novidade
relevante só o papel de Lula.
Agora o Ministério Público tem dois caminhos: arquivar o caso
ou pedir ao Supremo que determine abertura de investigação.
Para arquivar, no entanto, é preciso que não reste dúvida
sobre a existência de indícios de que houve crime. E os vestígios estão presentes
em pelo menos um dos episódios narrados por Marcos Valério.
É o caso do depósito de "cerca de R$ 100 mil" na
conta da empresa Caso, segundo Valério, para pagar despesas pessoais do então
presidente da República.
Na quebra de sigilo ordenada pela CPI dos Correios, em 2005,
aparece o registro de R$ 98.500 depositados na firma de propriedade de Freud
Godoy assessor direto de Lula, coordenador de segurança de suas quatro
campanhas presidenciais e até 2006 com sala no Palácio do Planalto. (…) Lula
poderá de novo alegar que não sabia de nada? Poderá, mas desta vez há
personagens notórios demais, detalhes verossímeis demais e um arsenal
imponderável demais nas mãos de um homem que, além de não ter nada a perder,
não esquece os maus bocados vividos em experiência traumática na cadeia.
Por fim, Fernando Rodrigues sustenta que os sete anos já
transcorridos desde o início do escândalo não são impedimento para uma
investigação contra Lula:
Ainda não é
tarde - FERNANDO RODRIGUES
BRASÍLIA - Há uma boa forma de avaliar o peso do depoimento
concedido em setembro pelo empresário Marcos Valério à Procuradoria-Geral da
República. Basta pensar no que teria acontecido se tais declarações tivessem
sido dadas em 2005.
Há sete anos, Marcos Valério e todos os envolvidos tinham algo
em comum: preservavam, de alguma maneira, o então presidente da República, Luiz
Inácio Lula da Silva.
Agora, condenado a mais de 40 anos de prisão, Valério
resolveu falar, como mostraram ontem em detalhes os repórteres Alana Rizzo,
Fausto Macedo e Felipe Recondo. Revelou ao Ministério Público que teria se
encontrado com Lula uma vez dentro do Palácio do Planalto. Que tratou com José
Dirceu diretamente do sistema de empréstimos fraudulentos que irrigaram o
mensalão. Afirmou ainda, em meio ao seu destampatório, que dinheiro do esquema
serviu até para bancar despesas do então presidente da República.
É muita coisa. Essas acusações todas em 2005 poderiam ter
precipitado um pedido de impeachment de Lula durante as investigações.
Procurados, os envolvidos ou citados repeliram as novas
acusações de Marcos Valério, ou negaram-se a comentá-las. No petismo, a
estratégia foi desqualificar a fonte. Como acreditar em um condenado a mais de
40 anos de cadeia?
O PT tem razão. As afirmações de Marcos Valério devem ser matizadas.
Assim como deveriam ter sido tomadas com cautela em 2005, época em que o
empresário preferia proteger a reputação de Lula. À época, como se sabe, o
petista se dizia traído, mas nunca apontou o traidor.
Uma investigação formal, hoje, sobre esse episódio poderá
esclarecer pontos obscuros do mensalão. Atestará a inocência de Lula ou provará
o seu envolvimento no esquema. Ainda não é tarde para tudo ser explicado aos
eleitores brasileiros.
12 de
Dezembro de 2012
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