A
situação dos brasileiros mais pobres durante a pandemia do novo coronavírus “é
uma grande preocupação” do médico Marco Aurélio Sáfadi, diretor do Departamento
de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e diretor do
Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
Paulo. “Com mais de 30 anos de experiência, eu nunca trabalhei com tanta
ansiedade”, desabafa.
De
acordo com o Sáfadi, Estado e sociedade devem agir para garantir “blindagem dos
idosos”. Ele defende medidas já tomadas, como o confinamento compulsório das
pessoas em casa, a interrupção de atividades, como aulas, e o fechamento do
comércio nas cidades. “De fato as restrições de circulação desempenham um papel
importante”. Ele pondera que a ampliação da testagem da população, já feita em
outros países, também seria efetiva. “A partir dali, o indivíduo passa a tomar
mais cuidados”, acredita o médico.
Em
sua visão, a infecção causada pelo novo coronavírus será mais branda entre as
crianças do que nas faixas etárias mais avançadas. No entanto, elas poderão
involuntariamente “desempenhar um papel importante na dinâmica da transmissão”,
explica Sáfadi. O especialista alerta para a situação de localidades densamente
ocupadas com residências de poucos cômodos e muitos moradores.
“É
inexorável que a doença vá se alastrar. Como pedir isolamento a uma família
onde cinco dormem no mesmo cômodo?”, pergunta o médico. Segundo o estudo
Sínteses dos Indicadores Sociais do IBGE, de 2019, 5,6% do conjunto da população e 14,5% da
população abaixo da linha da pobreza dormem em cômodos com mais de três
pessoas. Conforme critério do Banco Mundial, são considerados pobres pessoas
que têm rendimento domiciliar per capita inferior a US$ 5,5 por dia,
aproximadamente R$ 27,50.
O
IBGE informa que uma parcela significativa de brasileiros mora em condições que
trazem dificuldades para o controle de epidemias. Segundo dados do instituto,
12% da população reside em locais com ao menos uma inadequação. Além da alta
densidade de pessoas na mesma residência, “a utilização de materiais
não-duráveis nas paredes externas do domicílio” e “a ausência, no domicílio, de
banheiro de uso exclusivo dos moradores – ou seja, um cômodo com instalações
sanitárias e para banho”.
Mais
de 37% dos brasileiros residem em moradias onde falta ao menos um serviço de
saneamento básico. Entre os mais pobres a situação é pior: a taxa sobe para 60%
da população. (ABr)
Sábado,
21 de março, 2020 ás 19:30
Nenhum comentário:
Postar um comentário