A
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou ao Supremo Tribunal
Federal (STF) denúncia contra o senador José Agripino Maia (DEM/RN) e outras
duas pessoas por associação criminosa e peculato. O parlamentar é acusado de
nomear e manter durante sete anos um funcionário fantasma ligado ao seu
gabinete. As investigações revelaram que Victor Neves Wanderley repassava a
remuneração recebida do Senado a Raimundo Alves Maia Júnior, que era a pessoa
que efetivamente prestava serviços ao senador. Como era servidor da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Norte, Raimundo não poderia assumir função no
Senado. A forma encontrada pelo parlamentar para remunerá-lo foi a nomeação
fictícia. A PGR destaca que, ao longo de 84 meses foram desviados da União quase
R$ 600 mil. Além de pedir o ressarcimento desse valor com correção e juros, a
PGR requereu indenização por danos morais coletivos em valor equivalente ao
dobro do desviado, e a perda da função pública.
Na
denúncia, a procuradora-geral destaca que o senador mantém vínculo de amizade
antigo com Raimundo Maia. Entre 2012 e 2014, foram identificadas 905 ligações
telefônicas entre os dois. A informação é resultado de quebra de sigilo
telefônico autorizada pelo STF. No mesmo período, não foi identificado nenhum
contato entre o senador Agripino Maia e Victor Neves Wanderley, que ocupada
formalmente o cargo de secretário parlamentar. Outro fato mencionado é que
Victor Neves Wanderley foi lotado inicialmente no Gabinete da Liderança dos
Democratas e, logo no mês seguinte, ele transferiu a remuneração recebida a
Raimundo Alves Maia Junior. “Esse foi o primeiro ato de peculato da série de 84
crimes”, reforça Raquel Dodge.
As
investigações também revelaram que o funcionário fantasma era, na verdade,
gerente de uma farmácia localizada em Natal e que ele nunca esteve em Brasília,
onde fica o gabinete do senador. Como prova, a PGR destaca que as companhias
áreas questionadas durante a apuração não encontraram registros de viagens em
nome de Victor. Raquel Dodge enfatiza ainda que o endereço apresentado por
Victor em outra ação penal – a qual responde e que tramita no Rio Grande do
Norte – é em Natal e não na capital federal. A análise da frequência nas folhas
de ponto de Victor no Senado revelou simulação no preenchimento, o que reforçou
para os investigadores a certeza que ele não cumpriu expediente de 40 horas
semanais na Casa Legislativa.
Na
ação penal, a PGR ressalta a informação de que Victor confessou ter recebido
durante três anos remuneração estadual mensal de mais de R$ 2 mil sem nunca ter
trabalhado na Assembleia Legislativa. “A prática de peculato sob a forma de
nomeação de funcionário fantasma lesou o patrimônio público e a moralidade
administrativa, tanto em relação à União quanto em relação ao Estado do Rio Grande
do Norte”, conclui Raquel Dodge.
Cota
denúncia – Além da denúncia, Raquel Dodge enviou ao STF pedido para que seja
instaurado novo inquérito para apurar outras práticas criminosas atribuídas aos
investigados. Com base em dados do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf), a procuradora-geral cita o suposto crime de lavagem de
dinheiro cometido por Agripino Maia, Raimundo Alves Maia Junior e Victor Neves.
Segundo os dados, de dezembro de 2011 a novembro de 2014, o senador teria
movimentado valores atípicos, inclusive, por meio depósitos feitos por um
motorista do Senado. “São, portanto, transferências ainda não explicadas e que
merecem apuração sob o enfoque da lavagem de dinheiro”, ressalta a PGR.
Também
é mencionada a necessidade de aprofundamento investigativo em relação à
prestação de contas junto ao Senado Federal, feita pelo escritório de apoio do
senador em Natal (RN), sua base eleitoral. A PGR cita relatório da Polícia
Judiciária, que enumera inconsistências em documentos de comprovação de
despesas. Foram apresentadas notas fiscais de empresa de Brasília para
comprovar despesas de vigilância em Natal (RN). A empresa não é cadastrada na
Polícia Federal, conforme exigência legal. “Diante desse contexto, requeiro a
instauração de um novo inquérito, a ser instruído com cópia integral do atual,
sob relatoria preventa (conexão) de Vossa Excelência, para investigar os três
contextos fáticos ora indicados”.
A
PGR solicitou ainda o envio de cópia dos autos para a primeira instância da
Justiça Federal e Estadual do Rio Grande do Norte para que sejam apuradas
práticas criminosas cuja competência não cabe ao Supremo Tribunal Federal. É o
caso de falso testemunho, que teria sido prestado por um parente de Victor
Neves e de peculato pelo recebimento – por parte de Victor – de salário da
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, sem trabalhar.
(Com o Diário do Poder)
Quinta-feira,
13 de dezembro, 2018 ás 18:54
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