Quatro
anos não serão suficientes para o Distrito Federal se recuperar do rombo
deixado pela mais desastrosa administração de sua história
O
Distrito Federal sempre foi referência de bons serviços públicos na comparação
com o resto do país. A explicação é evidente: por sediar os três Poderes da
República, a capital recebe um gordo auxílio do Fundo Constitucional. Os
salários da segurança – e parte dos da saúde e educação – são pagos pela União.
O governo local arrecada todos os impostos que, no resto do país, se dividem
entre autoridades municipais e estaduais, além de embolsar ao mesmo tempo
recursos do Fundos de Participação dos Estados e dos Municípios. A economia
brasiliense, movimentada pelos salários dos servidores públicos, tem uma
arrecadação alta e baixos níveis de desemprego. A renda per capita é a maior do
país.
Por
isso, o recém-empossado governador Rodrigo Rollemberg (PSB) não esperava que,
em vez de anunciar o início de programas de governo ou de grandes obras,
tivesse de gastar todas as energias do começo de mandato para cortar gastos e
cancelar investimentos. Mas é só o que ele tem feito desde que assumiu o cargo,
em um esforço para amenizar a profunda crise financeira na qual o ex-governador
Agnelo Queiroz (PT) jogou o Distrito Federal.
Há
três semanas, o governo anunciou um pacote de 21 medidas que incluem aumento de
ICMS sobre a gasolina, revisão da tabela do IPTU e o fim da isenção de IPVA
para carros zero. O governo promete extinguir 60% dos cargos comissionados, os
secretários andarão em carros populares e nenhuma obra de peso será iniciada
num horizonte próximo. Antes disso, o governo já havia anunciado um inédito
parcelamento dos salários dos servidores. É isso mesmo: na rica capital do
país, falta dinheiro para a folha de pagamento. "Não há condição de pagar.
Se não parcelarmos, alguém terá que ficar sem receber", justifica o secretário
de Fazenda, Leonardo Colombini.
O
pacote anunciado por Rollemberg vai devolver 400 milhões de reais aos cofres
locais em 2015 e outros 800 milhões de reais em 2016. Ainda é muito pouco para
desfazer a herança maldita de Agnelo. A estimativa é de que o rombo ao final de
2015 seja de 5 bilhões de reais.
As
dimensões do desajuste só ficaram mais claras depois das eleições: o petista
teve apenas 20% dos votos e ficou fora até mesmo do segundo turno. As
engrenagens do governo pararam quase simultaneamente. O caso mais dramático foi
o da saúde. A rede pública chegou a ter 215 itens itens em falta, como
medicamentos essenciais, gaze e luvas esterilizadas. Médicos e professores de
creches cruzaram os braços. As empresas de ônibus circulavam de forma precária,
com interrupções frequentes nos serviços. O mato se alastrou pela cidade, a
coleta de lixo chegou a ser suspensa, viaturas ficaram paradas. Tudo isso
porque acabou o dinheiro do governo.
Durante
a transição, a equipe de Rollemberg constatou que Agnelo elevou salários,
distribuiu cargos comissionados e inflou contratos de forma inconsequente, em
um último esforço para ganhar popularidade. O novo governador recebeu o governo
com 64 000 reais em caixa para gastar.
(Gabriel
Castro- VEJA)
Terça-feira,
17 de fevereiro, 2015
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