Num
país que desde 2005, data das primeiras denúncias da AP 470, assiste à
criminalização da política e dos políticos, a lista de Edson Fachin – 8
ministros, 24 senadores, 39 deputados federais, 3 governadores – confirma
aquilo que sempre se soube ou pelo menos sempre se imaginou.
As
denúncias de desvios de recursos, abusos E corrupção pura e simples atingem
(quase) tudo e (quase) todos, em especial aqueles que assumiram o poder de
Estado a partir do impeachment de Dilma Rousseff.
(Não
se pode deixar de registrar que até agora nenhuma denúncia criminal chegou a
Dilma, afastada por um condomínio de conspiradores – apanhados em flagrante na
lista de Fachin – reunidos para derrubar seu governo entre abril-agosto de
2016).
É
uma lição vergonhosa – e um alerta precioso – a todos aqueles que, sem apoio no
voto popular, se utilizaram da judicialização como instrumento político e, pela
mentira ao povo e pela traição à democracia, ganharam acesso aos gabinetes que
operam o poder do Estado brasileiro.
O
melancólico destino do mensalão PSDB-MG, que até agora não apurou nem condenou
nenhum acusado de boa plumagem, embora seja mais antigo do que a versão do
mesmo esquema que levou à prisão o antigo núcleo dirigente do Partido dos
Trabalhadores, sempre será uma advertência antiga, didática e indispensável.
Confirma que, chamada a funcionar em ambiente de grande espetáculo, por trás
das cortinas a Justiça costuma ser aplicada para proteger amigos e perseguir
inimigos.
No
mesmo caminho, no momento em que aproximava-se do governo Temer, o TSE foi
colocado em férias coletivas.
Com
oito ministros e uma porção luminosa de sua base parlamentar na lista,
inclusive os presidentes da Câmara e do Senado, a permanência de Michel Temer a
frente do Estado brasileiro ameaça tornar-se uma impossibilidade prática.
Desde
o aliado principal, Eduardo Cunha, poupado até o momento em que cumpriu a tarefa
de encaminhar o impeachment contra Dilma Rousseff, os pilares de sustentação
estão desmoronando, um a um. Incapaz de aceitar o caráter de seu governo,
nascido para ser transitório, Temer apenas agrava a própria situação quando
multiplica iniciativas destrutivas, do ponto de vista das conquistas da
população brasileira, e temerárias, do ponto de vista da democracia, imaginando
que irá salvar-se em seminários entre Washington e Nova York.
Numa
hora em que as máscaras caem e a farsa se desfaz, a prioridade absoluta é
retornar a política, a partir da compreensão de que não há saída fora do
respeito a soberania popular. Não custa
lembrar sempre. Com todos os seus defeitos a democracia é preferível às
ditaduras, de qualquer tipo – inclusive um estado de exceção judicial.
Nos
próximos dias, a lista de Fachin deve animar o debate em torno de ideias para
tirar o país de uma crise cada vez mais grave. Não há muito para inovar nem é
preciso distribuir prêmios de originalidade. Basta permitir ao povo escolher,
em urna, quem irá governar o país em futuro breve. Os brasileiros e brasileiros
manifestam essa vontade com clareza e veemência sempre que são perguntados. É
hora de discutir como devem ser atendidos.
Paulo
Moreira Leite
Quarta-feira,
12 de Abril de 2017 ás 12hs30
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