A
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou quinta-feira (24/01) uma
campanha para engajar, sensibilizar e fortalecer a atuação dos pediatras e
hebiatras (especialistas responsáveis pela assistência à saúde dos
adolescentes) na prevenção da gravidez precoce. O lançamento da campanha
antecipa-se ao início da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na
Adolescência, no dia 1º de fevereiro. A data foi instituída após o presidente
Jair Bolsonaro sancionar a Lei nº 13.798, que acrescenta ao Estatuto da Criança
e do Adolescente um artigo sobre o assunto.
Por
meio do site Prevenção da Gravidez na Adolescência, a SBP apresentará aos
médicos e à sociedade dados estatísticos, alertas sobre os riscos da gravidez
precoce e detalhes da lei que instituiu a semana nacional dedicada ao tema.
Também serão distribuídos cards pelas redes sociais e e-mail marketing aos mais
de 23 mil associados.
Estarão
disponíveis ainda dois documentos científicos destinados aos pediatras: o guia
prático Prevenção da Gravidez na Adolescência e o manual de orientação Consulta
do Adolescente: Abordagem Clínica, Orientações Éticas e Legais como
Instrumentos ao Pediatra”, ambos de autoria do Departamento Científico de
Adolescência da SBP.
De
acordo com a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, com a campanha, a
entidade quer alertar todos os pediatras brasileiros sobre sua importância no
processo. Para isso, a SBP está também estimulando todas as suas filiadas
estaduais a fazer um movimento com discussões sobre o tema. "Queremos que
o pediatra seja protagonista nessa ação de prevenção. Que, em toda consulta,
ele possa alertar e orientar adequadamente não só o adolescente como seus
pais."
A
médica ressaltou que nas escolas brasileiras não há informação e educação
sexual de maneira adequada e que muitas crianças e adolescentes não têm um
pediatra que os acompanhe. "Ele [o pediatra] tem um papel fundamental na
prevenção de doenças, na melhora da qualidade de vida e na orientação sobre a
saúde da criança. Seu papel é importante também no acompanhamento do
adolescente, na prevenção do uso de drogas, da gravidez."
Para
Luciana, a educação sexual deve começar em casa, junto com a família, mas é
sabido que há uma parcela significativa da população que não tem nível
educacional adequado e não se sente confortável para passar as informações aos
filhos. "A adolescência vai dos dez aos 20 anos e nesse período é preciso
ter informação sobre os riscos das doenças venéreas, da gravidez, sobre a
necessidade de preservativo, sobre atividade física".
Segundo
Luciana, em muitas localidades brasileiras, as crianças e adolescentes só são
atendidos na emergência e quando estão doentes. “Isso vai contra nossa ideia de
que o pediatra tem que acompanhar esses indivíduos de maneira sistemática e
periódica. Precisamos ter gestores e leis para isso, para que eles [os
gestores] compreendam que. se queremos fazer um futuro diferente para o Brasil,
temos que cuidar das nossas crianças hoje."
A
presidente da SBP ressaltou que a época da gravidez deve ser escolhida pelos
pais, em um momento de maior maturidade, e não como um acidente que ocorre nos
primeiros anos da vida sexual da adolescente. “É inadmissível que interrompamos
a vida de uma adolescente aos 12, 13 anos. Que ela deixe de ir para a escola
porque engravidou. É preciso cumprir o ciclo do desenvolvimento, da infância,
da adolescência, estudar, trabalhar, ter uma perspectiva de vida, para depois
escolher ter um filho."
A
médica disse ainda que normalmente a menina é mais prejudicada pela gravidez
não planejada, porque o menino nem sempre tem maturidade para assumir o papel
de pai nessa idade. "Nos hospitais públicos, muitas vezes chegam meninas
de 17 anos já com três filhos, às vezes um de cada pai. Elas não têm
expectativa de trabalho, não têm com quem deixar os filhos, e isso é muito ruim
também para essas crianças."
Além
do aspecto social envolvido, a gravidez na adolescência está associada a uma
série de riscos para a saúde da mulher e do bebê. Elevação da pressão arterial
e crises convulsivas (eclâmpsia e pré-eclâmpsia) são alguns dos problemas de
saúde que podem acometer a jovem grávida. Para o bebê, os problemas mais comuns
são a prematuridade e o baixo peso ao nascer.
Panorama
De
acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), na América Latina e no
Caribe, a taxa de gravidez entre adolescentes é a segunda mais alta do mundo,
ficando atrás somente da África Subsaariana. Anualmente, ocorrem em média 66
nascimentos para cada mil meninas com idade entre 15 e 19 anos, enquanto o
índice mundial é de 46 nascimentos.
Segundo
os dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivo (Sinasc), do Ministério
da Saúde, o percentual de gravidez na adolescência caiu 17% no Brasil em 2015.
Em números absolutos, a redução foi de 661.290 nascidos vivos de mães entre 10
e 19 anos em 2004 para 546.529 em 2015. No entanto, apesar dos avanços, o
número ainda é considerado grande, representando cerca de 18% do total de
nascidos vivos no país. (ABr)
Quinta-feira,
24 de janeiro, 2019 ás 15:08
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