A
situação fiscal dos estados vai influenciar o trabalho dos seus representantes
no Congresso Nacional, que tomam posse na próxima sexta-feira, dia 1º de
fevereiro, às 10h. Conforme dados do Banco Central, Tesouro Nacional e
Instituto Fiscal Independente (IFI), é generalizado o quadro de dificuldades de
receita e de despesa das unidades da Federação.
As
demandas dos estados reforçarão a agenda de ajuste fiscal que o governo federal
deverá propor ao Legislativo, inclusive a emenda constitucional para a reforma
da Previdência Social. Conforme Antônio Augusto de Queiroz, que há mais de 30
anos acompanha o Congresso pelo Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar (Diap), “a situação quase endêmica das finanças estaduais vai abrir
uma repactuação com a União”.
Segundo
ele, o governo federal e os governos estaduais atuarão em conjunto no Congresso
em favor de “compromissos coincidentes” e de um “pacto de esforço sistêmico e
sintonizado” para privatizações de companhias estatais, controle de despesas,
revisão do regime jurídico do funcionalismo público e outras reformas fiscais.
Crise gigantesca
Necessitando
de soluções urgentes, a situação dos estados foi se deteriorando nos últimos
anos com o aumento de gasto previdenciário. O quadro fiscal se agravou com a
recessão econômica, desde o último trimestre de 2014, que afetou a receita.
“Essas duas coisas é que fizeram os estados como um todo entrassem numa crise
financeira gigantesca”, assinala o economista Raul Veloso, especialista em
finanças públicas.
A
necessidade de ajustamento das contas públicas dos estados é estudada por
órgãos de monitoramento, política monetária e controle fiscal no âmbito
federal. Segundo o IFI, do Senado Federal, a dívida consolidada líquida de
todos os estados evoluiu de R$ 353,2 bilhões em 2009 para R$ 746,4 bilhões em
agosto de 2018.
Em
análise sobre a capacidade de pagamento dos estados feita pelo Tesouro
Nacional, e publicada no Guia para o Governador, apenas o Espírito Santo obteve
nota “A”. O resultado de cada estado computou os indicadores de endividamento,
de poupança corrente, e de liquidez. Os piores resultados foram para o Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Estados ricos
O
Banco Central também monitora as estatísticas fiscais das unidades da Federação.
Planilha publicada no final de 2018 chama atenção para a contabilidade dos
estados mais ricos. Segundo a Tabela 29, de estatísticas fiscais regionais, a
dívida líquida do Rio de Janeiro em novembro passado era 57,4% acima que a
receita. No caso do Rio Grande do Sul, o percentual era de 38,3%; São Paulo,
22,9%; e Minas 21,6%.
Fábio
Klein, analista sênior de finanças públicas da consultoria Tendências, explica
que além das dificuldades comuns - como gastos previdenciários, folha de
pagamento dos servidores em alta, e recessão -, esses estados foram os que mais
sofreram com a diminuição da atividade industrial por causa da crise e a
respectiva baixa na arrecadação. No caso do estado do Rio de Janeiro, ele
acrescenta que o desequilíbrio piorou a perda de arrecadação de royalties e os
elevados gastos para a realização das Olimpíadas (2016).
O
analista espera que em eventual repactuação da dívida entre estados e a União,
os novos governadores assumam postura diferente dos seus antecessores “Na
história, o que eu vejo é sempre assim: os estados sempre batem a porta da
União pedindo ajuda, mas sempre postergam os movimentos de ajuste. Os estados
querem todos os benefícios, mas na hora de fazer a dura lição de casa, não
vemos esse movimento”.
Até
o momento, sete unidades da Federação decretaram estado de calamidade. Rio
Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro (pela segunda vez) fizeram no
final do ano passado. Rio Grande do Norte, Roraima, Mato Grosso e Goiás neste
ano.
Ao
decretar estado de calamidade, o governador ganha liberdade para descumprir os
limites de gasto da Lei de Responsabilidade Fiscal, rever metas, repactuar
dívidas e pagamentos. Além desse recurso, os estados podem aderir ao Regime de
Recuperação Fiscal e deixar de pagar por três anos (prorrogáveis pelo mesmo
período) a dívida junto ao Tesouro Nacional e até contrair novo empréstimo.
Até
o momento, apenas o Rio de Janeiro aderiu. O especialista Raul Veloso chama
atenção para que o estado cumpra um programa de ajuste. “É uma redução de
aperto para voltar a respirar. Mas nada é de graça. Quando voltar a fazer os
pagamentos, a dívida que não foi paga por acordo estará maior”, afirma. (ABr)
Sábado,
26 de janeiro, 2019 ás 08:00
Nenhum comentário:
Postar um comentário