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a bandeira da moralidade absoluta não é para qualquer um. O último que tentou
fazer desse estandarte seu abre alas de apresentação perdeu a filiação
partidária, o mandato de senador e não pode passear por um shopping center de
grande cidade sem o risco de ser escorraçado: Demóstenes Torres, ex-DEM-GO,
flagrado pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, como principal braço
político do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Neste
momento, uma dúvida assalta gabinetes bem aparelhados da política em Brasília.
Será o senador de primeiro mandato Pedro Taques, do PDT do Mato Grosso, uma
versão 2013 adaptada do modelo Demóstenes de fazer política até 2012?
A
interrogação, em que pese a indignação ou euforia que possa causar, faz
sentido. Igualmente, como Demóstenes, procurador da República antes de
eleger-se senador, em 2010, Taques deve uma série de explicações sobre seu
passado no cargo. Ele foi apontado pelo jornalista José Marcondes, de Cuiabá,
como tendo desempenhado sua função em forte sintonia com o grupo que, ao ser
parcialmente desbaratado, a Polícia Federal chamou de 'máfia dos combustíveis'
no inquérito da Operação Tentáculos. Iniciada em 2001, essa ação policial
causou a prisão de pelo menos oito pessoas em Mato Grosso.
Entre
os presos estava um dos seguranças do procurador Taques, o ex-policial federal
e advogado Jarbas Lindomar Rosa. Em março do ano passado, o juiz federal José
Pires da Cunha, da 5ª Vara Federal de Cuiabá, condenou Rosa há 15 anos de reclusão
pelos crimes de formação de quadrilha ou bando, corrupção passiva, facilitação
de contrabando e adulteração de placas ou chassis de veículos. Ele também
foi punido por realizar interceptação telefônica sem autorização judicial.
Lamentável
coincidência? A ver. Presidente do SindPetróleo do Mato Grosso, o empresário
Aldo Locatelli admitiu, em 2010, ter emprestado seu jatinho para Taques
percorrer o Estado em campanha para senador. No período anterior à campanha, a
mulher de Taques, advogada Samira Martins, foi contratada como profissional do
departamento jurídico da entidade. O início da relacionamento remunerado de
trabalho passou a acontecer logo após a filiação do então candidato a senador
ao PDT.
Com
força no partido no momento que abria sua campanha que se confirmou vitoriosa,
Taques comandou uma série de mudanças na máquina partidária local, em cidades
estratégicas. Vizinha a Cuiabá, Várzea Grande passou a ter o empresário
Fernando Minoso, também do ramo de combustíveis (Posto Zero) como presidente.
Em Barra do Garças, todos os membros antigos do diretório foram destituídos
para que o empresário Ubaldino Rezende, maior revendedor de combustíveis do
Vale do Araguaia, passasse a ser o chefe da agremiação. O braço direito, amigo,
homem de confiança e também maior doador da campanha eleitoral de Pedro Taques
é Fernando Mendonça, ligado a usineiros de álcool da cidade de Jaciara.
Essas
informações foram divulgadas, na imprensa do Mato Grosso, pelo jornalista José
Marcondes. Ele sustenta, em processo que foi aberto contra ele por Taques, que,
enquanto procurador, o hoje senador atuou firmemente para impedir que um
programa de hidrovias fosse implantado no Estado, em nome de questões
ambientais passíveis de ampla discussão, cuja eficiência prejudicaria diretamente
as vendas de combustíveis para carros e, especialmente, caminhões em Mato
Grosso.
Um
dia após escrever em sua página na internet que Taques estava sendo financiado
pelo barões locais dos combustíveis, Marcondes foi demitido da rádio em
trabalhava, a Mega FM. Ele declarou, na ocasião, que tinha medo de ser
assassinado, como acontecera com um juiz e um advogado que seguiram as mesmas
pistas.
"Fui perseguido por ordem de Aldo Locatelli", diz Marcondes,
referindo-se ao atual presidente do SindPetróleo do Mato Grosso. "Taques
fez boa parte de sua campanha no jatinho dele, mas isso não consta de sua
declaração formal à Justiça Eleitoral", prossegue o profissional.
"Não vão me calar".
Ele vai mais longe. "Enquanto procurador,
Taques prevaricou", diz. "No processo de extradição de Marcos
Peralta, testemunha-chave no caso Leopoldino (o juiz morto, suspeita-se, por
profissionais do crime), ele não fez o que devia e o Peralta foi morto numa
queima de arquivo. Auro Ida (também assassinado) já havia o questionado
isso", lembrou.
Seria
interessante o senador pedir a palavra para falar a respeito.
Quinta-feira
14 de fevereiro
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